O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

Psiquê não resistiu à tentação de se tornar mais bela… você resistiria?

Em sua última tarefa, a heroína Psiquê tem que descer ao reino dos mortos e fazer um pedido à deusa rainha dali, Perséfone. O pedido é que ela coloque um pouco de seu poderoso creme de beleza – que faz todas as mulheres ficarem divinamente belas – numa caixinha que deverá ser entregue à Afrodite.

Mas era uma tarefa impossível porque ninguém consegue sair do reino dos mortos! Então, Psiquê pensou em se matar jogando-se do alto de uma Torre, mas aí magicamente a própria Torre falou com ela, dando-lhe instruções de como cumprir a tarefa.

A estranha Torre que fala é um símbolo ligado ao feminino (como está na carta da Lua do tarô) e ao mesmo tempo ao masculino (como na carta da Torre do tarô). Ela aconselhou Psiquê a levar moedas para pagar sua travessia no rio que divide o reino dos mortos do reino dos vivos e também levar bolos de mel para oferecer ao cão que guarda as margens. Ou seja, nós sempre precisamos pagar o preço do crescimento.

A Torre também aconselhou Psiquê a não dar atenção aos pedidos de ajuda que vai receber: Não lhe é permitido ter piedade ilícita, diz. Psiquê precisa focar, se concentrar na meta, não se distrair nem desviar, e principalmente não ajudar gente que não se ajuda. Não é um conselho usual, né?

Mas ela deve aprender a não desviar suas energias para socorrer aqueles que não precisam ou que usam mal o auxílio. Isso é muito difícil para nós, mulheres, que somos condicionadas a sempre valorizar mais as relações e os outros mais que a nós mesmas. Parece que cuidar das relações é “tarefa” só feminina, e muitas mulheres se perdem nisso.

Psique deve aprender a não se sacrificar pela relação e sim integrar o cuidado consigo com o cuidado com o outro, proteger-se, ter responsabilidade também consigo mesma.

Bom, ela conseguiu fazer tudo isso e saiu com a caixinha com o creme de beleza na mão, mas não obedeceu ao último conselho da Torre: não abrir a caixinha. Ela pensou: por que não vou abrir a caixinha e passar o creme que me tornará mais bela?

Você não abriria?

Ela abriu, mas o creme era uma armadilha e ela caiu desacordada.

Parece que cometeu um erro, só que não: ela precisava abrir a caixa, ver por si mesma, conhecer seu desejo, atender suas necessidades. E o que aconteceu foi que seu amante, Eros, que estivera ausente até então, resolveu intervir e a despertou do sono mortal. Psique foi elevada ao status de deusa e os dois se casaram.

Psiquê saiu da jornada como uma heroína valente e plenamente desenvolvida, e Eros também foi transformado por seu amor por ela. Houve uma metamorfose de ambos – e eles foram felizes para sempre, como acontece num bom conto de fadas e, as vezes, na vida de gente sortuda.

 

 

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