As antigas damas japonesas, de Ana Hatherly
Adoro a tradicional estética japonesa. Quando estive no Japão, amei ainda mais as construções antigas, os jardins, o Zen, as sedas, as pinturas, os haicais, o sushi, enfim, tudo. Mas ao ler esse poema da Ana Hatherly, artista plástica e poeta portuguesa , não pude deixar de pensar na raiva que existe por trás de toda submissão, por estética que seja, no caso das doces gueixas de antigamente . Mas nada de radicalismos: nem tudo é raiva e revolta, nem tudo é delicadeza e poesia. Somos, graças a Deus, uma grande mistura.
distraidamente
agitavam seus leques
no solitário mundo dos biombos
A distração
porém
é uma forma superior de ocultação
e
na aridez
do seu íntimo domado
o rugido da raiva
estava contido
artisticamente comprimido
no extravagante cinto
que traziam
atado nas costas
Tocavam
dançavam
serviam o chá de joelhos
num secular sequestro
Mas às vezes
num intervalo do desvelo
da honra e do pudor
descobriam
o esquisito sabor
que tem o crime
Nossa Bia, esse poema é lindo e intenso…mostra o lado B…
Você já leu O Livro do Travesseiro de Sei Shonagon? Foi escrito há mil anos, no século X, por uma dama da corte da imperatriz e mostra bem o cotidiano dessas mulheres que não era tão suave assim.
É um livro maravilhoso, sua escrita é em prosa poética e no meio tem muitos haikais.
Bjs
Ja anotei para ler, obrigada Cristiane!