Sobre cansaço, descanso, desespero e costura
Dois textos de Elena Bernabé, psicóloga e escritora italiana. Neles uma Avó fala sobre cansaço e sobre desespero com tanto carinho e sabedoria que é como sentir o alivio vindo de um abraço profundo.
Sobre cansaço e descanso
– “Vovó, estou cansado. Tão cansado desta vida…”
– “Pegue seu cansaço, meu filho, e envolva-o. Como um cobertor nos meses frios de inverno. O cansaço vem para fazer de você um ninho, para levá-lo a vestir roupas confortáveis, para fazê-lo afundar em seu abraço quente. Eu convido que você fique dentro de si. Sem forças, sem pensamentos, sem ações. Como a neve que cobre tudo para amolecer o mundo, para abafá-lo, para protegê-lo do barulho. Aceite os flocos do seu cansaço e deixe-se cobrir completamente por eles.”
– “Eu poderia morrer enterrado lá embaixo…”
– “Em vez disso, você renascerá. Como a semente no chão. Não resista ao seu cansaço, não o rejeite com mil ações, mil intenções, mil sentimentos de culpa. Ele só quer pegar você pela mão e conduzir você afundar no vazio. Bem ali, onde está a fonte de toda força interior. Eles nos ensinaram a ser fortes resistindo. Mas é na entrega que os verdadeiros heróis emergem.”
– “Tenho medo, vovó. E se o cansaço me aniquilar?”
– “Meu filho, você não tem medo do cansaço, mas de perder o controle de si mesmo. Chegou a hora de você se entregar à vida. E gerar junto com ela os filhos mais maravilhosos: os frutos da sua alma!”
Sobre desespero e costura
– ” Avó, o que posso fazer quando estou desesperada?”
” Costura, minha menina. À mão, devagar. Aproveitando cada onda criada com seus próprios dedos.”
” Costurar afasta o desespero?”
” Não. Costurando, bordando você o decora. Olha para a cara dele. Enfrenta-o. Da-lhe forma. Atravessa-o . E vai além.”
” Realmente é tão poderoso costurar à mão?”
” Claro, querida. As pessoas já não costuram e por isso estão desesperadas. As costureiras sabem que com agulha e linha você pode enfrentar qualquer situação escura conseguindo criar obras-primas maravilhosas. Enquanto você move suas mãos é como se você movesse sua alma de forma criativa. Se você se deixar transportar pelo ritmo repetitivo do remendo e do bordado, você entra em um verdadeiro estado meditativo. Você consegue chegar a outros mundos. E o emaranhado de fios emocionais dentro de você se suaviza. Sem fazer mais nada.”
” O que você aprende bordando?
” A enfrentar cada ponto. Só isso. Sem pensar no próximo ponto. A gente se foca no ponto presente, em cada costura. É esse ponto que nos escapa na vida diária. Estamos desesperados porque sempre pensamos no futuro. E se pensamos assim o bordado se torna desarmônico, confuso, pouco curado.”
” Sim, mas vó… as preocupações e medos como vencer com a costura?”
” Minha menina. Você não precisa vencer. Precisa acolher os medos, as preocupações. E compreendê-los. Costurando se tece o enredo da vida com suas mãos, é você que cria o vestido adequado para si mesma. Bordando você se conecta àquele fio fino que pertence a toda a humanidade e aos seus mistérios. Costurando você se transforma em uma aranha que tece sua teia contando silenciosamente ao mundo todos os segredos da vida. Entrelaçando os fios, entrelace seus pensamentos, suas emoções. E você se conectará ao divino que está em você e que segura o início do fio.”