“Se você não tem suporte, você suporta”, diz Ma Devi em trecho do livro Círculos de Mulheres
Nas redes e coletivos virtuais femininos e nos diversos movimentos/campanhas/mobilizações deflagrados por grupos feministas – como #MexeuComUmaMexeuComTodas, #MeToo, #EleNao, #ChegadeFiuFiu e muitos outros –, essa noção de irmandade e de sua força também é desenvolvida, sendo essencial para a mudança da visão das mulheres delas mesmas e para a união na luta contra o machismo, tão presente ainda hoje.
O diferencial dos círculos é que neles a experiência da irmandade é pessoal. Aquela mulher de quem escuto a história, as dificuldades, as dores e as conquistas que me impactam, com quem me identifico ou por quem tenho empatia e me comove está sentada ao meu lado: posso até tocá-la!
A emoção que essa experiência desperta nas participantes, muitas vezes silenciosa, mas com muita potência, pode ser um dos aspectos do “pulo do gato” que explicam a magia misteriosa dos círculos de mulheres. Sentirmo-nos verdadeiramente irmãs é algo revolucionário! E perceber o poder que podemos ter juntas pode constelar a força mítica desses reinos de mulheres guerreiras.
Ma Devi fala sobre isso:
Os círculos podem dar acolhimento, fazer nascer e crescer a irmandade e a força da reunião de mulheres. Na verdade, a mulher que sofre algum tipo de abuso sofre porque se vê sozinha, sem nenhum acolhimento. […] Se olho para trás e não tem ninguém para me amparar, eu permaneço na violência. Se você não tem suporte, você suporta. Enquanto a gente não trouxer essa irmandade entre as mulheres, enquanto a gente não perceber que somos comadres, irmãs, namoradas, amantes, amigas, mães e filhas umas das outras, nós vamos passar por muito sofrimento. Acolhimento é reunião, é saber que se você apanhar de um cara vai ter um montão de mulher para te defender. […]