Se a vida te pede para ser forte, invoca a memória de mulheres antigas…
A gente está cansada de ser forte e guerreira. Mas o que fazer se é isso que a vida nos pede? E há formas de proteção: “Se és uma mulher forte / se proteja com palavras e árvores / e invoca a memória de mulheres antigas… Ampara, mas te ampara primeiro. Guarda as distâncias. Te constrói. Te cuida”.
Inspirador texto da poeta nicaraguense Gioconda Belli colhido através de Mariana Macedo, a quem agradeço.
CONSELHOS PARA A MULHER FORTE
Se és uma mulher forte
te protejas das hordas que desejarão almoçar teu coração.
Elas usam todos os disfarces dos carnavais da terra:
se vestem como culpas, como oportunidades, como preços que se precisa pagar.
Te cutucam a alma; metem o aço de seus olhares ou de seus prantos
até o mais profundo do magma de tua essência não para alumbrar-se com teu fogo senão para apagar a paixão a erudição de tuas fantasias.
Se és uma mulher forte
tens que saber que o ar que te nutre carrega também parasitas, varejeiras, miúdos insetos que buscarão se alojar em teu sangue
e se nutrir do quanto é sólido e grande em ti.
Não percas a compaixão, mas teme tudo que te conduz
a negar-te a palavra, a esconder quem és, tudo que te obrigue a abrandar-se e te prometa um reino terrestre em troca de um sorriso complacente.
Se és uma mulher forte
prepara-te para a batalha:
aprende a estar sozinha
a dormir na mais absoluta escuridão sem medo
que ninguém te lance cordas quando rugir a tormenta
a nadar contra a corrente.
Treine-se nos ofícios da reflexão e do intelecto.
Lê, faz o amor a ti mesma, constrói teu castelo o rodeia de fossos profundos mas lhe faça amplas portas e janelas.
É fundamental que cultives enormes amizades que os que te rodeiam e queiram saibam o que és
que te faças um círculo de fogueiras e acendas no centro de tua habitação uma estufa sempre ardente de onde se mantenha o fervor de teus sonhos.
Se és uma mulher forte
se proteja com palavras e árvores
e invoca a memória de mulheres antigas.
Saberás que és um campo magnético até onde viajarão uivando os pregos enferrujados
e o óxido mortal de todos os naufrágios.
Ampara, mas te ampara primeiro.
Guarda as distâncias.
Te constrói. Te cuida.
Entesoura teu poder.
O defenda.
O faça por você.
Te peço em nome de todas nós.
Gioconda Belli, Nicarágua, 1948