Renoir, um belo filme
– Uma pintura deve ser uma coisa agradável, alegre, disse o Renoir para sua modelo Andrée. Esse filme é assim também, agradável e belo, nem sempre alegre, mas cheio de vida e de arte.
As dores causadas pela artrite não impediam Renoir de pintar, a maior paixão de um homem que teve muitas. Na casa do sul da França, onde se avista o mar de longe, as muitas empregadas, na maioria ex-amantes, o servem com carinho. Numa atmosfera de intimidade francesa cheia de joie de vivre, cozinha-se, canta-se, pinta-se, esquecidas de que estavam em1915, plena Primeira Guerra.
– Não quero mais saber de tragédias, disse ele em sua alienação proposital, não sei se de idoso cansado ou de artista que só quer saber de criar, ou ambos. – Deixe-se levar pela vida… diz.
O filme mostra apenas o ultimo pedaço da vida de Pierre-Auguste Renoir pai, o pintor célebre, e de seu filho Jean Renoir, que passa um momento de incerteza e que mais tarde, também levado por uma paixão, vai se tornar um grande cineasta.
Andrée, a nova modelo que aparece para tirar o velho Renoir de sua apatia, não se conforma em ser mais uma modelo que vira empregada ou amante, e revoluciona a estrutura familiar. Ela até se queixa de que Renoir a engorda nos quadros! De fato, as mulheres dele são gordinhas, rosadas, “ tem-se vontade de lambe-las”, como diz alguém, como se fossem um doce ou sorvete.
Acompanhamos uma transição de mundos – da Belle Époque para a dura modernidade do inicio do sec XX, da pintura impressionista e clássica para a arte mais contundente do cinema e da própria pintura, das mulheres-musas para o começo da tomada de posição feminista – pela perspectiva que esse lindo filme proporciona. Gostei.