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Relatos sobre Círculos LGBT

LGBT

Laura Bacelar relatou várias vivências que conduziu com círculos de lésbicas para nosso livro Círculos de Mulheres. Mais espaços de troca como esses podem contribuir para que um mundo melhor, mais aberto e menos preconceituoso se torne cada vez mais real.

“Não se fala muito sobre lésbicas. Na sociedade em geral não há espaço para falar sobre o que você sofreu ou deixou de sofrer quando seus pais ficaram sabendo, se você foi posta para fora de casa ou o que a sua avó disse… Todas essas coisas causam traumas, que ficam trancados e que a pessoa carrega ao cuidar da vida, trabalhar, estudar. Ela pode passar anos sem nunca ter a oportunidade de falar disso. Então, se há um evento em que se abre essa possibilidade, ela não aguenta, pega o microfone e conta sua história. Nossa, não sei quantas vezes vi isso! E também quando a pessoa, ao ouvir outras histórias, percebe: “Nossa, a minha não é tão ruim!” E depois todo mundo comenta, conversa e aquela coisa gigantesca e sem nome que ficava na cabeça dela não fica mais. Fica uma experiência forte, que dá para ser trabalhada. Claro que isso é muito libertador!

Como a nossa sede nos últimos anos era uma casa, os encontros que fazíamos lá podiam ter um clima mais íntimo. E em vários momentos nós abordamos temas fortes. Numa festinha, no dia das mães, convidamos as lésbicas para falar da própria mãe ou de sua experiência como mães. Foi incrível, porque apareceram umas histórias bem fortes, na veia mesmo. Uma mãe lésbica contou que um filho não a aceitava bem, uma coisa difícil. Uma menina japonesa contou da relação extremamente conflituosa com sua mãe, que não a aceitava de jeito nenhum! A mãe batia na cara dela, era realmente agressiva, mas dentro da cultura japonesa você não pode brigar diretamente com sua mãe, e ela não tinha coragem de sair de casa. E as pessoas acolheram muito bem tanto a menina que falou da mãe como a senhora que falou do filho. Ninguém ignorou, algumas pessoas ficaram com lágrimas nos olhos…

Outro evento que fizemos, esse com um viés mais cultural, foi na off-Flip. Convidei pessoas que tinham escrito livros de literatura infanto-juvenil pelo viés da diversidade e, de repente, nossa mesa ficou cheia de mães. A mãe de um menino gay que escreveu um livro infantil falando de diversidade sexual explicou por que o escreveu: “Eu queria melhorar o mundo para o meu filho”. Uma mãe lésbica fez a tese de doutorado sobre a literatura que aborda a diversidade e a forma como ela é tratada nas escolas – ou seja, como não é tratada. Publicou e o livro dela foi ilustrado pelo seu filho, hetero, que a aceita e vive com ela e a companheira. Outra escreveu um livro em que conta sobre seu filho gay que é muito delicado e por isso mundo o rejeita. Ela disse que escreveu o livro para proteger o filho! De repente, a gente tinha três mulheres que escreveram livros para deixar o mundo melhor para os filhos delas. Algumas mães na plateia falaram também, e ao final várias pessoas vieram dizer que aconteceu ali um evento de mais qualidade do que o oficial da Flip.
Então, a gente teve eventos que pegaram desde o lado mais íntimo até o mais cultural”.

Círculo de Mulheres – as novas irmandades, Ed Ágora (link no menu) – Beatriz Del Picchia e Cristina Balieiro

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