Que pai queremos?
Cada um tem uma imagem de pai.
Essa imagem pode ser amada ou odiada, grandiosa ou mesquinha, intima ou distante, baseada em experiências concretizadas ou imaginadas.
Na pg 131 do nosso livro, a Cida (Maria Aparecida Martins) diz:
“E o pai do céu, para mim, é um grande colo divino que aconchega. Eu nunca perdi essa fé. Quando estou aflita, vou para o pai do céu, porque eu estou aflita e ele tem que dar jeito na situação. E quando eu estou morrendo de felicidade, eu digo a ele: “Pai do Céu, nós dois juntos formamos uma grande dupla!” A fé me acompanha 24 horas por dia, desde sempre. Tudo para mim gira em torno do pai do céu. Eu acredito que existe uma inteligência maior, não é um pai do céu que está tomando conta de mim, é mais uma inteligência maior. Para mim o pai do céu é uma inteligência suprema que a tudo provê.”
Esse é o Pai Provedor, o Deus que ampara seus filhos e que é também a Inteligência Suprema.
Jerusha Chang fala assim de seu Mestre Pai Lin (pg 146):
“Não era aquele mestre que você idealiza, sonha, totalmente recolhido, é um mestre muito vivo, muito humano. Ele fazia questão de fazer as pessoas perceberem que ele não queria que elas ficassem mitificando, colocando ele no pedestal… O mestre foi meu pai espiritual. Coisas que eu não falava para o meu pai eu falava com o mestre. Às vezes, não precisava nem falar, ele olhava e já sabia tudo que estava passando, já me orientava.”
Aqui o Pai é o Mestre orientador, de sábio que nos conduz e ilumina.
Já Rosane Almeida, em sua peça A mais bela história de Adeodata, fala de um “pai patrão”, que pode ter a forma de um Rei ou de um Deus poderoso e severo.
Esses são alguns exemplos de como a figura simbólica do Pai pode se formar para nós.
Os arcanos do tarô ilustram bem isso, simbolicamente.
No dicionário junguiano (http://www.rubedo.psc.br/), lemos que Jung tratou do tema pai como:
• pai como oposto de mãe, encarnando diferentes valores e atributos.
• pai como um “espírito instrutor”, como um representante do princípio espiritual, como a contraparte pessoal de Deus-Pai.
• pai como uma modelo para seu filho.
• pai como aquilo de que o filho se deve diferenciar.
• pai como primeiro “amante” e imagem de animus para sua filha.
• pai como aparece na transferência durante a análise.
Em diferentes fases da vida, cada filho vai desejar que seu pai faça, e bem, cada um desses papéis.
Tanto os de modelo positivo a serem imitados, como os de modelo negativo, dos quais o filho deve se diferenciar e/ou superar.
E nem estou entrando aqui no célebre complexo de Édipo…
Se pensarmos nos pobres pais – esses de carne, osso, inseguranças, medos, cheios de humanas falhas – como podem dar conta de tantos papéis?
Além disso, é difícil crescer e virar pai (ou mãe).
Tantas vezes sem querer, tantas vezes cedo demais, precipitadamente demais, a vida age num improviso e – bumba – lá está aquele bebê que precisa de cuidados que não conseguimos dar nem a nós mesmos.
Os órfãos, e algumas vezes os adotados, podem idealizar seus pais biológicos. Daí tantos filmes e livros com tema de “procurar seu verdadeiro pai”.
Na mitologia, então, nem se fala. A falta dá margem à imaginação.
Que pai queremos ter, hoje?
Talvez a resposta para essa pergunta indique, não o que outra pessoa deve ser para nós, mas o que nós estamos precisando ser para nós mesmas.