O Leão olha atentamente, o Unicórnio olha suavemente, e a Dama tem olhos entreabertos, como que vendo tanto dentro como fora.
Da mesma forma, olhar e perceber o que sentimos conecta o mundo de fora com o de dentro, tornando ambos mais vivos e intensos.
A ideia destas práticas simples é prestar atenção às nossas sensações corporais e percepções, e conectá-las a nosso mundo interno. Se quiser mais informações sobre isso, clique AQUI. A prática de hoje consiste em:
1. AFASTAR OUTROS ESTÍMULOS E CONCENTRAR-SE SÓ NISSO. Não mexer nem olhar para o computador, celular, televisão, desligar o som, não falar.
2. ESCOLHER ALGUMA COISA NÃO VIRTUAL PARA OLHAR (objetos, ambientes ou paisagens) e prestar toda atenção nela. Eu fiz vários desses exercícios em uma praça, focando na paisagem, mas pode ser feito em qualquer lugar (em casa, no escritório, no shopping), focando em objetos neutros como um vaso de violetas, a vista da janela, algo na sua mesa do escritorio, um quadro na parede, etc.
3. DAR QUALIDADES AO QUE É VISTO, PERCEBER OS SENTIMENTOS QUE ISSO TRAZ E FAZER ASSOCIAÇÕES EMOCIONAIS.
Para ajudar, eu uso mais ou menos o roteiro abaixo, mas não é preciso segui-lo nem ter respostas para tudo. Outra opção é se concentrar em apenas uma ou duas das questões.4. DURAÇÃO: ALGUNS MINUTOS, enquanto conseguir manter a atenção. Repetir outras vezes se possivel.
E se com essa prática a vida ficar um pouco mais colorida, OBA! Se a gente reparar que está vendo melhor as coisas, tanto de dentro quanto de fora, e que isso é muito bom, OBA OBA! É sinal de que o exercício está funcionando, que estamos começando a enxergar o mundo da Dama !
Roteiro: Quais cores do objeto ou paisagem aparecem mais? Quais formas chamam minha atenção? São pequenas, grandes? Muitas, poucas? Dar qualidades ao(s) objeto(s): são alegres, tristes, estridentes, calmos, agressivos, suaves, monótonos…? Gosto do que vejo? Esse objeto ou paisagem combina comigo? O que vejo me sugere alguma ação – como parar, seguir em frente, guardar, desbotar, murchar, amar, oferecer, sair, fotografar? Lembra-me alguma pessoa, lugar, acontecimento ou época da minha vida? Traz-me alguma ideia, imagem, palavra?
Como ilustração, coloquei mais abaixo uma prática minha, na qual me concentrei mais nas cores do que via:
Só olhando
Lembrando uma agulha que mergulha para fazer um ponto de bordado, eu me enfiei terra abaixo pelas cinzuras do metrô, e saí numa sombreada praça do Bom Retiro.
Três velhos sentados num banco estreito olharam para mim ao mesmo tempo. Cabelos brancos, camisas bem passadas, e eu segui em frente.
Em outro banco, três moças negras de cabelos escorridissimos combinavam blusas em tons pastel, azuis, lavanda, rosa, e eu também me senti desbotar um pouco.
As minifolhinhas das arvores cobriam o ainda mais alto, esverdeando minha sombra, e percebi que as pessoas só andavam em grupos de três, ou sozinhas.
Sentei num banco ao lado de uma mulher bege que falava ao celular, e tapei os ouvidos porque aquele dia era só de olhar.
Estiquei meus rígidos sapatos para frente, perto de onde seus pés inchavam entre as tirinhas das sandálias. Ela suspirou em tons de abacate, gordurosa e sem graça, e eu desisti dela.
Segui querendo apenas olhar, contar, bordar e ser todas as cores.
Só isso, e já era tanto!
textos de Beatriz Del Picchia, imagens da Dama e o Unicórnio expostos no Museu de Cluny, Paris
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Vou exercitar essa proposta. E o texto é belíssimo!