Porta-retrato: a menina ruiva que nos acompanha
Eu só desenho figuras femininas! Não sei o porquê… e também, devo confessar nunca refleti muito sobre isso. Desenhar tem sido para mim um processo tão visceral, que não questiono nada: são minhas imagens internas que querem se concretizar no papel.
Tenho desenhado essas figuras desde 2004 – tinha parado de desenhar em 1964, quando tinha 12 anos. E sempre desenhando para mim: nunca pensei que outras pessoas pudessem gostar do que faço.
Mas de lá para cá esses desenhos se espalharam: nas capas dos nossos livros, em várias ilustrações no blog, nas paredes do meu escritório-consultório, no facebook… os caminhos da vida são curiosos!
Voltando a minhas figuras femininas, elas sempre trazem algo do mundo vegetal que se mescla a mulher. São flores que nascem dentro delas, raízes que as prendem ao solo, braços que se estendem como galhos e folhas…
Acho que é porque acredito que o princípio feminino tem algo de terra, de árvore, de ciclo, de raiz, de sumo, de húmus, de morrer para brotar de novo, da Terra, nossa moradia e Mãe!
Essa acima é mais uma – chamei de porta-retratos. É a figura da heroína ruivinha que está no centro da mandala da Jornada, capa do nosso livrinho MULHERES NA JORNADA DO HERÓI – pequeno guia de viagem, que a Bia montou em cima dos meus desenhos. É também a menina ruiva que aparece no fim do nosso conto de fadas – AS MENINAS DO JARDIM – escrito pela Bia e que está no nosso outro livro O FEMININO E O SAGRADO – mulheres na jornada do herói.
Ela é nossa companheira!
Figuras que falam são reflexões, histórias, poemas ou pensamentos inspirados em imagens. O de hoje tem texto e desenho de Cristina Balieiro.
O QUE POSSO DIZER? Sou uma menina-mulher ruiva e recebi este desenho por e-mail da minha amiga e irmã de alma Gláucia, ontem. Estou cuidando de minha mãe, que recebeu um diagnóstico de que seu útero estava doente. Estava, pois ele não mais está nela. Não há doença nela, somente havia neste órgão exclusivo das "fêmeas". E passei momentos lindos e divertidos ao seu lado, neste início de recuperação. Penteei seu cabelo, passei creme bem cheiroso em todo seu corpo. Ela é, sem dúvida, a mulher mais forte e corajosa – embora também tenha fraquezas e grandes medos – que conheço. Não é uma idosa, tem 63 anos e muito pra viver, rir e sonhar! Estou grata por compartilhar com ela estes momentos tão felizes, depois de 15 dias angustiantes e quatro horas intermináveis de cirurgia. Vê-la indo pelo corredor em uma maca, depois de rezarmos juntos, sem ter aquela plena certeza do que iria acontecer, se poderíamos realmente nos falar depois, mexeu comigo de uma forma muito singular e transformadora. Ela nunca precisou de nada disso. Eu sim, precisei muito de seus cuidados, menina e mulher…
As coisas da vida, dos ciclos…
Obrigada por este desenho e este post, que me tocou…
Obrigada você, Danielle por nos contar com tanta sensibilidade esses momentos tão difíceis e doces e acima de tudo tão femininos que vc passou com sua mãe. E que bom que meu desenho também te fez companhia.
Abraco
Cris