O Rei Demétrio, de Konstantinos Kaváfis
Mas ele previne que não somos apenas isso, e que não devemos nos deixar identificar com esses personagens transitórios.
Em suas próprias palavras:
“ A identificação com o próprio cargo ou título pode ser muito tentadora, mas é o motivo pelo qual tantas pessoas não são mais do que a dignidade a elas concedida pela sociedade. Sob o envoltório pomposo encontraríamos um homenzinho deplorável. O cargo ou qualquer tipo de casca interior exerce um grande fascínio, porque representa uma fácil compensação das deficiências pessoais.”
Isso me faz lembrar certos homens importantes que desmoronam ao se aposentar…
E para mim essa poesia fala exatamente disso. Quando o rei foi destronado, abandonou o poder como um ator troca de papel.
Recomendo que seja lida quando se está sozinho em casa, de preferência descalço e com o cinto desafivelado.
Seus efeitos colaterais podem fazer com que as pessoas nunca mais levem a sério os ditadores de qualquer tipo e que, mesmo que estejam bem vestidos com ternos, gravatas, bolsas de grife e saltos altos, não se levem muito a sério também.
Ao ser deixado pelos macedônios,
os quais mostraram preferir a Pirro,
o rei Demetrio (que a alma tinha
grande) de modo algum – assim disseram –
como rei comportou-se. Foi tirar
as vestimentas de ouro, atirou longe
os calçados de púrpura e, envergando
roupas simples, partiu logo em seguida.
Comportou-se exatamente como o ator
Que, uma vez o espetáculo acabado,
troca de roupa e vai logo para casa.