O perigoso estudo de mitologia, por Mircea Eliade
Parece que mitologia é só um tema de interesse como qualquer outro, certo? Porém, amigas que gostam, estudam ou lidam com mitologia e buscadoras do sagrado, é bom lembrar que deuses e símbolos, mesmo antigos e quase esquecidos, provocam efeitos em nós. Jung e Joseph Campbell diziam isso da maneira deles. Cada mantra que se repete ainda que de forma desatenta, cada deusa que se evoca ainda que superficialmente, cada ritual que se reproduz ainda que mecanicamente traz em si uma energia do inconsciente coletivo e ressoa em nós de alguma forma, embora nem sempre perceptível de forma consciente.
Mircea Eliade, autor desse livro que recomendo e é referencia nesse assunto, escreveu em seu diário como foi afetado por seus perigosos estudos:
“Estes trinta anos, e mais, que passei entre deuses e deusas exóticos, bárbaros, indomáveis, nutrido de mitos, obcecado por símbolos, alimentado e enfeitiçado por tantas imagens que me chegaram daqueles mundos submersos, parecem-me hoje para mim, as etapas de uma longa iniciação. Cada uma dessas figuras divinas, cada um desses mitos ou símbolos, está ligada a um perigo que foi enfrentado e superado. Quantas vezes quase me perdi, extraviado neste labirinto onde corria o risco de ser morto… Não eram apenas saberes adquiridos lenta e vagarosamente nos livros, mas tantos encontros, confrontos e tentações. Percebo perfeitamente agora todos os perigos que contornei nesta longa busca e, em primeiro lugar, o risco de esquecer que tinha um objetivo… que queria chegar a um ‘centro’.
Fonte: C.G. Jung & Mircea Eliade: ‘Priests without Surplices’, tradução livre