O pássaro e o ovo: uma história de RECUSA AO CHAMADO
Aconteceu porem que, graças a um jogo de circunstancias, o ovo de um pássaro voador foi incubado por um que não voava.
Em seu devido tempo nasceu o filhote, com a potencialidade de vôo que seus iguais sempre haviam tido. Voltou-se então para sua mãe adotiva, perguntando:
– Quando voarei?
– Persista em suas tentativas de voar, como os outros, respondeu o pássaro que vivia preso à terra.
Disse isso porquanto não sabia como ensinar o passarinho a voar, e nem sequer tinha idéia de como lançá-lo do ninho a fim de que aprendesse.
É curioso, de certo modo, que o passarinho não notasse isso. O reconhecimento de sua situação o confundia em virtude da gratidão que sentia em relação ao pássaro que o havia incubado.
– Sem seu auxilio – dizia a si mesmo – seguramente eu ainda estaria no ovo.
E ainda em outras ocasiões, murmurava:
– Quem pôde incubar-me, certamente deve poder me ensinar a voar. Na certa será apenas uma questão de tempo, ou de meu próprio empenho sem ajuda, ou ainda de alguma grande sabedoria. Sim, deve ser assim. Um dia, de repente, serei conduzido à etapa seguinte por quem me trouxe até aqui.
– ‘supor que uma coisa se segue a outra pode ser absurdo; ou
– “o fato de uma pessoa poder desempenhar uma função não quer dizer que possa executar outra”.
Para mim, no entanto, essa historia fala mais é como podemos nos prender a mestres, mães, pais, professores, gurus, analistas, namorados e maridos, esperando que eles nos tragam respostas quando não podem mais.
Quando queremos que eles ainda sejam modelos quando já os ultrapassamos, quando nós mudamos e ainda não entendemos que precisamos encerrar a fase de sermos alunos; enfim, quando findamos algum ciclo e/ou relacionamento de dependência e não queremos enfrentar a vida sem aquela bengala…
Também fala dos limites da gratidão e da necessidade de desenvolvermos por nós mesmos nossas habilidades, ainda que na solidão.
Isso tudo, na Jornada do Herói, pode ser uma maneira da gente recusar o chamado para a ventura, como um pássaro que não honra seu impulso de voar!
As vezes, só existe a capacidade da mãe adotiva.
Coisas simples e únicas e não existe o seguinte.
Nos compreender pela postura do outro, nem sempre o outro esta pondo um ovo.
Beijocos Neide