O fogo da alma
Para Clarissa Pinkola, uma de nossas funções é colocar o fogo da alma nas coisas. O que significa isso? É o que ela conta nessa pequena encantadora história.
Quando eu era menina, uma das minhas tias me contou a lenda das “Mulheres das Águas”. Ela disse que às margens de cada lago vivia uma jovem com mãos de velha. Sua primeira função era a de colocar tüz — que posso apenas descrever como “fogo-da- alma” — em dúzias de lindos patos de porcelana. Sua segunda função era a de dar corda nas chaves que saíam das costas dos patos. Quando as chaves de dar corda de madeira não giravam mais, os patos caíam e seus corpos se estilhaçavam, ela devia abanar seu avental para as almas no instante da sua liberação, espantando-as para o céu. Sua quarta função consistia em pôr mais tüz em outros lindos patos de porcelana, dar-lhes corda e soltá-los para que vivessem suas vidas…
A história do tüz é uma das mais claras na descrição de como a mãe da vida-morte-vida emprega seu tempo. Em termos psíquicos, a Mãe Nyx, Baba Yaga, as Mulheres das Águas, La Que Sabe e a Mulher Selvagem representam imagens diferentes, idades, disposições e aspectos diferentes do Deus Mãe Selvagem.
Infundir tüz nas nossas ideias, nas nossas vidas, nas vidas daqueles que tocamos: é essa a nossa função. Espantar a alma de volta para casa: é essa a nossa função. Soltar uma grande quantidade de centelhas para encher o dia e criar uma luz para que possamos ver o caminho pela noite adentro: é essa a nossa função. Espantar a alma de volta para casa: é essa a nossa função. Soltar uma grande quantidade de centelhas para encher o dia e criar uma luz para que possamos ver o caminho pela noite adentro: é essa a nossa função.
Clarissa Pinkola Estés, Mulheres que correm com os lobos.