O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

O Feminino e os livros: EMMA, ORGULHO E PRECONCEITO E RAZÃO E SENSIBILIDADE

Passei um fim de semana inteiro, em janeiro, sozinha em casa, só descendo para comprar alguma coisa para comer na padaria em frente ao meu apartamento, assistindo as séries da BBC feita sobre esses três romances de Jane Austen. E não teria como ter uma série sobre o Feminino e os Livros sem falar de Jane Austen. 

Jane Austen nasceu na Inglaterra em 1775 e morreu em 1817, com 41 anos. Nunca se casou. Escreveu 6 livros, sendo 2 publicados após sua morte. De família que pertencia a burguesia agrária era a sétima filha do reverendo George Austen, o pároco anglicano local. Entre 1785 e 1786, ela e sua única irmã foram alunas de um internato e essa foi a única educação Austen recebeu fora do âmbito familiar. Por outro lado, sabe-se que o reverendo Austen tinha uma ampla biblioteca e, segundo ela mesma conta em suas cartas, tanto ela quanto sua família eram “ávidos leitores de romances “. Entre 1795 e 1799 começou a redigir as primeiras versões dos romances que publicaria depois sob os nomes RAZÃO E SENSIBILIDADE e ORGULHO E PRECONCEITO.

O pai tentou em 1797 publicar ORGULHO E PRECONCEITO, mas os editores recusaram. RAZÃO E SENSIBILIDADE, foi aceita por um editor em 1810 ou 1811, apesar de a autora assumir os riscos da publicação. Foi publicado de forma anônima, em outubro, como pseudônimo: “By a Lady”. Teve algumas críticas favoráveis, e se sabe que os lucros para Austen foram de 140 libras esterlinas. ORGULHO E PRECONCEITO foi publicado em janeiro de 1813, também de forma anônima, mas a identidade da autora começou a difundir-se, graças à popularidade da obra e à indiscrição da família. Em 1814 publica Mansfield Park e em dezembro de 1815 foi publicada EMMA. Seus dois últimos romances Persuasão e Northanger Abbey foram preparados para publicação pelo irmão Henry Austen após sua morte. 

Essa pequena história dos livros é para mostrar como uma mulher que vivia numa sociedade tão restritiva e fechada para as mulheres, com acesso restrito à educação, sem direitos básicos como herança, pode em função do seu enorme talento escrever romances que emocionam pessoas até hoje e que se transformam em filmes e mini séries de tremendo sucesso. É muito interessante que ORGULHO E PRECONCEITO fosse o livro preferido da minha avó, que nasceu em 1897 e um dos preferidos de uma querida menina amiga minha de 17 anos, uma fiel representante do século XXI.

As três heroínas desses livros – Emma, Elinor Dashwood e Elizabeth Bennet – são mulheres formidáveis, não perfeitas, não santas, não dóceis, mas inteligentes, sagazes, fortes, personagens que orgulham qualquer mulher. E ela as criou muito jovem ( Orgulho e Preconceito escreveu com 21 anos) e com a vida estreita que viveu. Quem gosta da questão de mulheres que participam ativamente da criação literária, mesmo que não aprecie seus livros, tem que render homenagens a Jane Austen. Vejam o que dela fala Virgínia Woolf, no ensaio literário UM TETO TODO SEU: 

 (…) ninguém sentiria vergonha de ser apanhado no ato de escrever ORGULHO E PRECONCEITO. E, no entanto, Jane Austen ficava contente quando uma dobradiça rangia, de modo que pudesse esconder seu manuscrito antes que alguém entrasse. (parenteses meu: Austen escrevia na sala comum da família, porque não tinha um quarto todo seu!) Para Jane Austen, havia algo de desabonador em escrever ORGULHO E PRECONCEITO. E, pus-me a imaginar, seria ORGULHO E PRECONCEITO um romance melhor se Jane Austen não tivesse considerado necessário esconder seu manuscrito dos visitantes? Li , mais uma vez, uma ou duas páginas para verificar, mas não consegui encontrar sinal algum de que as circunstâncias em que ela viveu tivessem causado o menor dano a seu trabalho. Esse talvez fosse o principal milagre daquilo. 

O milagre é o talento de Austen! Recomendo para quem ainda não entrou em contato com sua obra: leiam os livros, vejam os filmes e especialmente as séries da BBC, que são fantásticas e lindas! Não vou colocar qualquer indicação de editoras ou edições porque suas obras são de domínio público e são achadas com a maior facilidade, indo desde edições bem simples de bolso a edições luxuosas e bilíngues.

Uma última indicação: para quem gosta de Jane Austen e de romances policiais como eu, a atual primeira dama inglesa do crime, P. D. James escreveu um livro chamado MORTE EM PEMBERLEY, tendo como personagens Mr. Darcy, Elizabeth Bennet e outros de ORGULHO E PRECONCEITO. Foi lançado em 2013, pela Companhia das letras. É passado 6 anos após o casamento dos dois, em sua propriedade em Pemberley onde na véspera de um baile, acontece um crime. É delicioso de ler e maravilhosamente bem escrito!

Texto de Cristina Balieiro

2 comentários

  1. felicia ferrari disse:

    Como leitora assídua de Jane Austen e, agora há pouco descobrindo seus maravilhosos livros adorei o paralelo traçado entre ela escritora e mulher(donzela, heroína, anciã,embora precoce, pois morreu aos 41)!
    Como vemos a mulher foi sempre uma heroína em busca do seu sagrado interior! Perseguindo a bem-aventurança!
    Grata Cris pela ajuda que tem nos dado para perseguir nossa bem-aventurança!

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