O Feminino e os livros: A MULHER E O DESEJO
A MULHER E O DESEJO foi publicado pela Editora Rocco na coleção Genero Plural, em 2001. Foi escrito pela importante analista junguiana americana Polly Young-Eisendrath, que também é feminista e budista. Ela já escreveu vários livros (alguns publicados no Brasil) e a base dos seus escritos é sempre esse tripé: psicologia junguiana, feminismo e budismo.
No correr de todo livro, composto de 7 capítulos, ela vai refletir sobre o que as mulheres querem e vai chegar a conclusão que, de fato, não sabemos. E não sabemos porque a cultura patriarcal em que fomos criadas distorceu e deturpou nossos desejos. De Sujeitos de nossos Desejos, com toda carga de liberdade e responsabilidade que isso acarreta, nós passamos a desejar ser Objetos de Desejo do Outro, especialmente dos homens.
Desejar ser desejada passou a ser a maior aspiração das mulheres, que pagam um preço terrível por isso. Vejam um pequeno trecho do primeiro capitulo:
A compulsão de ser desejada, de ser desejável corrói o autocontrole, a autoconfiança e a autodeterminação das mulheres da adolescência à velhice, em todos os nossos papéis, de filha a mãe, de amante a esposa, de estudante a trabalhadora ou líder, seja essa angústia consciente ou não. Querer ser desejada significa enxergar o nosso poder em uma imagem e não em nossos atos. Nós tentamos parecer atraentes, simpáticas, boas, dignas, autênticas ou merecedoras para alguém em vez de tentar descobrir o que realmente sentimos e queremos para nós mesmas. Neste tipo de acordo consciente ou inconsciente, são os outros que nos devem proporcionar as nossas sensações de poder, valor ou vitalidade, à custa de nosso próprio desenvolvimento.
No segundo capítulo, “A ameaça da beleza feminina”a ênfase é, se o que eu quero é ser objeto de desejo do outro, na verdade não me vejo como uma pessoa real , mas uma imagem que quero passar e, uma imagem baseada em padrões idealizados de beleza. E, se meu poder é ser objeto de desejo do outro, não tenho poder, de verdade, o poder é do outro, não sou Sujeito, sou Objeto. Ela diz que inclusive que nos tornamos Objetos para nós mesmas, observando constantemente o nosso corpo como observadoras externas.
No capítulo “Sexo através do espelho” demonstra que se torna impossível buscar conhecer e viver nossa sexualidade, nosso prazer sensual e sexual plenamente, se estamos preocupadas em despertar o desejo do outro, em sermos musas, como fala. Ainda mais se acreditamos que para despertar esse desejo precisamos corresponder a um modelo idealizado de beleza.
Eu mesma já vi em muitas pacientes, preocupação com a vida sexual, ligadas ao fato de se estão gordas, se tem estrias, celulite, seios pequenos, seios grandes, estão envelhecidas, etc, ou seja, na verdade se estão “dentro do padrão de serem bons Objetos de Desejo” e não na busca real da vivência da própria sexualidade. É viver a sexualidade “olhando no espelho”para ver se está bonita e desejável e não viver o sexo como prazer, entrega e relação!
No capítulo sobre a maternidade (que acho o mais sensacional), chamado “A criação em estufa e a criança divina” ela fala sobre a crença relativamente nova em termos históricos, da criação das crianças, especialmente das pequenas, como responsabilidade quase exclusiva das mães e da profunda e absolutamente nefasta idealização desse papel e nefasta tanto para as mulheres quanto para seus filhos.
No capítulo “A mulher materialista e o Fantasma Faminto” vai discorrer como a compulsão por comprar e/ou comer vão ser substitutos absolutamente inadequados ao vazio, ao “buraco negro”na alma feminina causado pela falta de Sentido e Significado.
No capítulo “O problema espiritual de se revelar” vai se aprofundar no tema da busca espiritual das mulheres, seja nas religiões tradicionais ou nas religiões ligadas a Deusas, que surgiram após o advento do feminismo, mas sempre se contrapondo, especialmente no caso das religiões tradicionais, com a preocupação a não perder a si como Sujeito.
O último capítulo “O paradoxo da liberdade e do desejo” ela vai falar sobre desejo, liberdade, responsabilidade e maturidade. Como diz:
“….quando nos tornamos Sujeitos dos nossos desejos, nós não aprendemos a ser deuses nem a fazer as coisas do jeito que queremos. Não nos tornamos mais egoístas nem egocêntricos; ao contrário, nós compreendemos o que significa ser humano”.
O livro é profundo e muito questionador, mas a autora ilustra todos os capítulos com contos de fada, com mitos e histórias de suas pacientes, o que ajuda e amplia a compreensão de suas idéias.
Não concordo inteiramente com todas suas considerações mas acho esse livro imprescindível a todas as pessoas que tenham interesse particular sobre o tema do Feminino e/ou as mulheres, pois ele propicia uma ampla, rica e instigante gama de idéias para reflexão.
UAAAAuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu, é o segundo livro que parece fantástico que vejo dessa escritora…O outro é "Bruxas e Heróis"…Minha lista de livros a comprar está crescendo..rssss….
Aliááss..achei mais um ! Estava aqui , nm sabia que era dela! "Female Authority" !