Nos relacionamentos amorosos, parece que ninguém nunca é bom o suficiente
Algum tempo atrás dei uma entrevista para o Daniel Zanella, da Gazeta do Povo de Londrina, sobre relacionamentos afetivos. Transcrevo aqui em parte e recomendo clicar o link para ler o texto completo do Daniel, que é muito bom:
http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/conteudo.phtml?id=1503518
Caravana das solitudes – Daniel Zanella, Gazeta do Povo
Maior liberdade de escolhas afetivas, o individualismo em seus aspectos narcisistas e a descartabilidade dos relacionamentos atuais estão entre os motivos que levam as pessoas a viverem sozinhas.
(…) Para Bia Del Picchia, pesquisadora de Mitologia e pós-graduada em Psicologia Junguiana, a rapidez com que se fazem e se rompem relacionamentos suscita o descompromisso e o medo da entrega. “Ninguém nunca é bom o suficiente; pensa-se que se pode achar outro melhor, como se fosse uma mercadoria. Essa frieza pode provocar o oposto: quando finalmente se entrega, a pessoa dependura-se emocionalmente no parceiro, perdendo a si mesma e sufocando o outro. É um lado sombrio dos relacionamentos atuais. Do lado luminoso, a chance de ser feliz, amar e apostar numa relação que pode ser constantemente redescoberta e reinventada”, pondera.
Escolhas
É evidente que saindo do aspecto do eu-maior, a questão toda passa inevitavelmente pelo aspecto estrutural da sociedade. “Já passamos por muitas fases políticas, onde movimentos sociais batalharam por muitas causas. Isso gerou e gera resultados, como a ressignificação dos relacionamentos entre os indivíduos. Muitas pessoas não se sentem mais contempladas por modelos tradicionais de relacionamento. Gerações mais antigas seguiam as tradições também por falta de escolhas”, assevera Bia.
Os conflitos geracionais não anulam a influência das tradições e têm como principal fator a criação de um certo mal-estar constitutivo de se sentir fora dos padrões. “O ideal de amor romântico e heteronormativo é muito prejudicial socialmente, pois cria ilusões e impõe obrigações aos relacionamentos que dificilmente são consolidadas pelas pessoas. Não é problema algum desejar relacionamentos monogâmicos, casamento e filhos. Mas é primordial que esses fatores sejam, de fato, escolhas. Sem imposições, as pessoas são felizes em seus relacionamentos”, completa.
Para Bia, a contemporaneidade também contribui nas pressões cotidianas e sentimentais. “Um dos efeitos perversos da aceleração do dia a dia é a compulsão de se estar ligado a um estímulo o tempo todo. Ficamos viciados nisso, e, no entanto, a solidão e o silêncio são saudáveis e indispensáveis. É preciso espaço e vazio para que haja criação e comunicação entre as pessoas. Precisamos da luz e da sombra”, completa.