MULHERES MARCANTES: Madre Cristina (1916 /1997)
Célia Sodré Dória, na vida religiosa Madre Cristina foi uma religiosa católica brasileira, cônega da congregação de Santo Agostinho, educadora, psicóloga, fundadora e diretora do Instituto Sedes Sapientae.
Teve participação ativa na resistência ao regime militar, na campanha da anistia política, na organização de movimentos sociais e no desenvolvimento da psicologia no Brasil.
Influenciada pelo pai, um advogado com formação católica e militante na política Célia desde tenra idade demonstrou interesse por política e preocupação com as desigualdades sociais. Com 10 anos, veio para São Paulo como aluna interna no Des Oiseaux — a escola para meninas mais refinada na época. Depois voltou para Jaboticabal para concluir o curso secundário. Retornou a São Paulo para estudar pedagogia e filosofia na faculdade Sedes Sapientiae, que tinha sido criada pelas mesmas irmãs que dirigiam o Des Oiseaux, as cônegas de Santo Agostinho. No término do curso, decidiu seguir a vida religiosa, por achar que as pessoas casadas não têm condições de levar uma vida totalmente dedicada às questões sociais.
Em 1954, doutorou-se em psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e, no mesmo ano, foi aprovada em concurso para preenchimento de uma cátedra na mesma faculdade. No ano seguinte, para se aprofundar nas idéias de Freud, foi estudar em Paris, onde fez especialização em psicanálise na Sorbonne.
Em 1958, de volta ao Brasil, com ideais de transformação social e política, ajudou a reorganizar a Juventude Universitária Católica (JUC), que passou a ter uma atuação mais incisiva na área política.
Apesar da militância política, não deixou de trabalhar como psicoterapeuta e professora, tendo sido pioneiro no Brasil seu trabalho na áreas do psicodrama e da psicoterapia de grupo. Nesse período, foi grande sua produção científica, entre livros, artigos em revistas especializadas e conferências por todo o país. Formou em sua clínica uma equipe de psicanalistas, entre os primeiros do país. Devido a seu empenho juntamente com outros profissionais, foram criados pelo MEC os cursos de psicologia no Brasil.
Mas também, na fase mais dura do regime militar, transformou parte de sua clínica em alojamentos para abrigar perseguidos políticos. No governo Médici (1969-1974), vários presos políticos foram torturados para confessar alguma ligação de Madre Cristina com suas organizações clandestinas. Mas a freira comunista, como era chamada pelos defensores do regime, nunca chegou a ser presa ou sofrer alguma represália mais séria, apesar das constantes ameaças de morte que recebia.
Em 1977, fundou o Instituto Sedes Sapientiae, no bairro paulistano de Perdizes, que oferece cursos de especialização nas áreas de pedagogia, psicologia e filosofia, mas também permanecendo uma instituição aberta para a discussão dos temas ligados à desigualdade social. Definia o Sedes “como um espaço aberto aos que quiserem estudar e praticar um projeto para a transformação da sociedade, visando atingir um mundo onde a justiça social seja a grande lei”.