Iemanjá,a Grande Mãe que gera a vida no mar, e o que sabiam as velhas tradições
Na superfície do mar, perto das areias, nasceu Iemanjá, vestida de azul e prata, coroada pelo arco-íris Oxumaré e cercada de algas, estrelas-do-mar, peixes e corais: ali ela fez seu reino.
Olorum quis que ela desposasse Aganju, seu irmão, apenas para reproduzir filhos. Mas ela já tinha um filho, Orugã, que era apaixonado por ela e por sua inteligência. Certo dia ele tentou violenta-la. Iemanjá correu dele, correu e não percebeu que na fuga seus seios estavam crescendo. De tão pesados, eles a fizeram cair no chão – e deles nasceram as águas e com elas todos os orixás.
Os seios de Iemanjá, o arquétipo alimentar básico, alimentam a humanidade… e contêm um duplo simbolismo. Primeiramente eles representam o princípio feminino, a mãe. Por outro lado, os seios femininos também materializam a proteção, o refúgio, o lugar de repouso.
Na ideologia mortuária iorubá, morrer nas águas significa regressar à origem, ao conforto e abrigo do corpo sagrado da Mãe. Durante os duros séculos de escravidão moderna, a imagem da mãe, à qual os escravos imaginavam regressar após a morte, era a da Mãe África, o berço da cultura iorubá.
Mas de seus seios vieram os orixás, e cada orixá tomou posse de um elemento da natureza – os rios e cachoeiras, a mata, o trovão, o sol, a lua, tudo. Então, Obatalá, por ordem de Olorum, criou o ser humano, e o ser humano povoou a terra.
Cada ser humano herda do orixá de que provém suas marcas e características, propensões e desejos. Os humanos são apenas cópias esmaecidas dos orixás dos quais descendem. No entanto, além do orixá específico, somos todas e todos filhos de Iemanjá. Por isso ela é a grande Mãe.
Então, como em muitos outros mitos de criação, o par primordial é a Mãe e seu Filho, Iemanjá e Aganju. É como se houvesse uma completude básica, a Mãe que tem tudo dentro de si, a Grande Criadora, a Rainha de todas as águas, aqui no Brasil do mar.
Em termos concretos e biológicos, sabemos que a vida, não só humana mas toda vida da terra, se originou no mar – quer dizer, em Iemanjá. Ou seja, hoje sabemos pela ciência, mas antes já sabíamos pelas velhas tradições que sempre souberam das coisas.
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