Heroínas do Brasil – Tia Ciata
Tia Ciata nasceu na Bahia em 1854 e foi iniciada no candomblé como Ciata de Oxum. Em 1876, com 22 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro por causa da perseguição da polícia baiana aos adeptos do candomblé. Foi morar na região central do Rio, perto da praça Onze.
Lá conheceu Noberto da Rocha Guimarães com quem teve uma filha. Separou-se dele e para sustentar a menina começou a trabalhar vendendo seus quitutes na rua. Ia para o ponto de venda com sua roupa de baiana: uma saia rodada e bem engomada, turbante e diversos colares e pulseiras sempre na cor do orixá que iria homenagear.
Casou-se depois com João Baptista da Silva, com quem teve mais 14 filhos.
A Praça Onze, no Rio, ganhou na época o apelido de Pequena África, porque era o ponto de encontro dos negros baianos que tinham vindo fugindo da perseguição policial e dos ex-escravos radicados nos morros próximos ao centro da cidade.
É lá que surge o samba e as chamadas “tias” baianas tiveram um papel fundamental, pois além de transmissoras da cultura popular trazida da Bahia e sacerdotisas de cultos e ritos de tradição africana, eram grandes quituteiras e festeiras. Com isso, reuniam em torno de si a comunidade que inundava de música e dança suas celebrações – as festas chegavam a durar dias seguidos.
A casa de Tia Ciata era a “capital” da Pequena África. Em sua casa, as festas eram famosas! A hospitalidade de Tia Ciata foi a base para que grandes compositores pudessem desenvolver o samba. Com comida boa e rodas regadas a muita música, a casa dela logo se tornou tradicional ponto de encontro, onde se reuniam grandes nomes, como Donga, Pixinguinha, João da Baiana, Sinhô e Heitor dos Prazeres. Numa dessas rodas, Donga e Mauro de Almeida compuseram “Pelo Telefone”, o primeiro samba registrado na história da música brasileira, em 1916 e que se tornou grande sucesso no carnaval de 1917.
Tia Ciata continuou fazendo seus quitutes, suas festas e dando suas consultas como Mãe de Santo até morrer. Era respeitada e amada em sua comunidade!
E no carnaval os bloco e ranchos passavam obrigatoriamente embaixo de sua janela para saudá-la. Ela e as outras “tias” baianas eram consideradas mães do samba e do carnaval dos pobres.
Até hoje, as “tias” são representadas e homenageadas nos desfiles das Escolas de Samba pela ala das baianas.
Próxima quarta-feira, dia 25/05: LINA BO BARDI