Heroínas do Brasil – Clementina de Jesus
Clementina nasceu em 1901, no interior do estado do Rio de Janeiro, filha de uma parteira e lavadeira e de um capoeira e violeiro da região. A pequena Clementina viveu a infância ouvindo sua mãe cantar enquanto lavava as roupas a beira do rio. Foi provavelmente nesta época que aprendeu os cantos de escravos: corimbas, jongos, lundus, incelenças, partido-alto e modas.
Com 8 anos mudou-se com a família para a cidade do Rio de Janeiro. Lá frequentou em regime semi-interno o Orfanato Santo Antônio e cresceu vendo a mãe rezar em jejê nagô e cantar num dialeto provavelmente iorubano, e ao mesmo tempo apegada a crença católica. Um vizinho, que sempre escutava a menina cantando em casa, ofereceu para a garota o papel de solista em procissões e festas religiosas.
No final dos anos 20, passou a frequentar blocos de Carnaval que, depois, seriam transformados em escolas-de-samba. Acompanhou de perto o surgimento e desenvolvimento da escola de samba Portela, frequentando desde cedo as rodas de samba da região. Foi também devota da Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro, onde participava de festas das igrejas da Penha e de São Jorge, cantando canções de romaria.
Após a morte do pai, a situação financeira da família ficou muito complicada e Clementina não teve outra alternativa a não ser trabalhar como empregada doméstica, lavadeira e passadeira. Durante mais de 20 anos, esta foi a atividade que a sustentou.
Sua atividade de cantora ela exercia sem intenção de fazer-se profissional, cantava por prazer, por alegria.
A carreira profissional de Clementina de Jesus como cantora começou aos 63 anos, depois que o produtor e compositor Hermínio Bello de Carvalho a encontrou na festa da Penha em 1963. Ele a levou para participar do show “Rosa de Ouro”, show que a consagrou, que rodou algumas das capitais mais importantes do Brasil e virou disco. Nos anos seguintes Clementina participou e gravou vários dos discos.
Unanimidade entre a crítica, Clementina foi louvada como elo entre África e Brasil, tendo sido reverenciada por grandes nomes da música brasileira, como Elis Regina, João Nogueira, Clara Nunes, Caetano Veloso, Maria Bethânia e João Bosco.
Dona de uma voz inconfundível Clementina de Jesus foi a síntese do Brasil, expressão de um país de forte herança africana e de singular formação religiosa.
Era muitas vezes chamada de Rainha Quelé , juntando a imponência do título de realeza e com a corruptela carinhosa de seu nome. Clementina evocava tais sentimentos aparentemente contraditórios: ternura e o profundo respeito. Todos com quem se envolvia tinham a compulsão de chamá-la Mãe, como a chamavam os músicos do musical Rosa de Ouro.
Ao mesmo tempo ela despertava respeito com o tom poderoso e ancestral da sua voz: a África que estava diluída em nossa cultura é evocada subitamente na voz e nos cânticos que Clementina cantava e que aprendeu com a mãe, filha de escravos.
Trouxe uma contribuição inestimável para a cultura musical brasileira.
Próxima quarta-feira, dia 06/07: MARIA QUITÉRIA
Thanks! Adorei esta historia.
Oi Fátima, que bom ver você aqui lendo nosso site! E a histórias dessas mulheres – todas elas – são incríveis, não é? Temos mais é que divulgá-las! Grande beijo
Cris
Está bonito demais o projeto! Parabéns, Cris!
Obrigada Lu Palharini, está me dando um enorme prazer resgatar a história dessas mulheres sensacionais e é MUITO bom receber feedbacks como o seu! Abraço
Cris