Gnosticismo
O gnosticismo desenvolveu-se na mesma época e local onde surgiu o cristianismo com o qual foi e permaneceu entrelaçado. Isso aconteceu nos primeiros três séculos da era cristã, nas regiões onde são hoje a Palestina, Israel, Turquia, Cisjordânia e Síria.
Há muita controvérsia sobre a origem da tradição gnóstica e não cabe no propósito desse livro entrar nessas questões.
O que pode ser dito de forma geral sobre os gnósticos é que eram pessoas que compartilhavam a convicção de que o conhecimento direto e pessoal sobre a Verdade e o Absoluto era acessível a qualquer pessoa, não precisando de intermediários como sacerdotes, padres, rabinos, livros sagrados, e que a obtenção desse conhecimento era a suprema realização de todo ser humano. Esse conhecimento, chamado de Gnose, não era nem o saber empírico racional da ciência, nem o saber filosófico, ligado ao Logos, mas o saber que vem através de percepções, intuições e revelações interiores. Era através de um amplo mergulho no próprio mundo interno que se chegava Verdade; só dessa maneira era possível conhecer a verdadeira natureza e destino humanos. E conhecer-se nesse nível profundo era conhecer a Deus.
Os gnósticos tendiam a considerar todas as doutrinas como aspectos diversos da mesma Verdade e por isso eram abertos e tolerantes, existindo inclusive diferentes visões aceitas dentro da sua própria tradição. No contexto desse livro o foco será na visão mais claramente ligada a doutrina cristã, especialmente no seu início, nos séculos I e II dc.
O conhecimento que temos hoje, tanto do cristianismo primitivo quanto desse linha da gnose, deve-se fundamentalmente a descoberta dos evangelhos gnósticos, feita em Naj Hammadi, Egito, em 1945 e tornada disponível para os estudiosos a partir dos anos 1960.
Trechos do livro O LEGADO DAS DEUSAS 2