Eros, Psique e a Gata Borralheira
O que tem em comum o mito de Psiqué e o conto de fadas da Gata Borralheira?
Bom, além de serem lindos, tanto no mito como no conto duas moças fazem jornadas de heroínas. E ambas começam suas jornadas pela mesma tarefa, que é separar coisas muito misturadas.
No mito, Psiqué perde seu amante Eros e, para recuperá-lo, tem que fazer 4 tarefas duras, impostas por sua sogra Afrodite. E sabe qual é a primeira das 4 tarefas? Afrodite mistura vários grãos formando um monte e manda Psiqué separá-los por espécie em uma só noite! Felizmente, aparecem umas formigas que a ajudam.
Essa mesmíssima tarefa vai aparecer no conto de fadas da Gata Borralheira, que também tem que separar lentilhas de cinzas, e também é ajudada pelos animais: os pássaros…
As formigas e os pássaros são interpretados como um “princípio ordenador instintivo”, que precisamos desenvolver de alguma forma. Para que?
Bom, embora o mito de Psiqué tenha mil interpretações, a gente pode dizer que trata da alma em busca de si mesma, de uma ampliação de consciência, de um caminho do caos para o cosmos. E a ampliação de consciência começa pelo discernimento, que significa análise e clareza de entendimento para separar o que é misturado na vida.
É separar feijões de ervilhas, sentimentos de razão, preconceitos de conhecimento real. Separar as batalhas que são nossas das que não são nem devem ser. Das que são justas e necessárias daquelas que a gente herda ou entra de bobeira.
Diz esse mito e esse conto que é através da clareza de entendimento (que vem de um processo não apenas racional mas também intuitivo e instintivo) que começamos a pensar por nós mesmas. E isso faz TODA diferença! Traz toda liberdade! Porque pensa por si mesma, nenhuma heroína ou herói é mandada ou manipulada como são aquelas que apenas seguem o que a moda, a mídia, a família ou os colegas pensam.
Post de Bia Del Picchia
Bia, como sempre "nossas coincidências" – estava relendo agora pouco o conto Vasalisa, (russo) para contar para uma paciente e uma das tarefas que a Baba Yaga dá para ela é separar milhões de semente de papoula de um monte de estrume e quem faz isso por ele é sua boneca (que foi presente da mãe que morreu). Parece mesmo que a busca do discernimento, discriminando o que deve ser discriminado faz parte da iniciação feminina!
Pois é, sempre a função terapêutica dos contos de fadas…