História de cura da melancolia num harem do Marrocos
O que fazer com uma aflição sem causa, estranha e indefinida? Não uma depressão, mas uma vaga melancolia, um estado de desprazer, um sutil baixo astral que chegou sem mais nem menos?
Uma autora que cresceu num harém do Marrocos descreve a forma simples, amorosa e bela que as mulheres tratavam disso lá. Essa forma nasce de um tipo de espirito feminino tão essencial que pode ser uma inspiração para quem está numa dessas horas cinzentas. E a gente vê que mesmo num harém, lugar de terrível opressão e exploração das mulheres, existia a sororidade (união e aliança entre mulheres) vinda desse mesmo espirito feminino.
Colhi esse trecho na apresentação do livro O Violino Cigano e outros contos de mulheres sábias da escritora Regina Machado. Linda obra cheia de heroínas e histórias adoráveis, recomendo!
“Eu me lembro de ter lido uma vez – no livro Sonhos de Transgressão, que é de uma autora marroquina chamada Fatima Mernissi – uma passagem que expressa o que seria para mim o espirito feminino essencial desse conjunto de contos”.
O livro em questão é um relato das memorias de infância da escritora num harém no Marrocos. Ele conta que, quando uma das mulheres se sentia angustiada, o mal que a afligia podia ser chamado de mushkil ou hem.
A mulher com mushkil tinha um problema definido, sabia o motivo de seu sofrimento.
Mas se ela tivesse hem, não sabia por que estava sofrendo, era uma aflição estranha, uma espécie de depressão de origem desconhecida.
Nesse caso ela subia até o terraço mais alto do harém e ficava em silencio, contemplando a cidade lá de cima. Ela sabia que só a quietude e a beleza podia curar o mal de hem.
Mais do que isso, quando percebiam que alguma delas sofria do mal de hem, as mulheres do harém esperavam que ela voltasse do terraço e a envolviam com muita hanan, quer dizer, uma ternura “ilimitada e irrestrita”.
“A quietude e beleza da natureza, acompanhadas de ternura, são os únicos remédios que fazem efeito nesse tipo de doença” conta Fatima em seu livro.”
Adoro esse livro….
Bjs
Eu também, Cris!
beijos