Conto de fada sobre a diferença entre amor e paixão
Esse pequeno conto fala de algo tão profundo e ao mesmo tempo tão comum que acho que todo mundo já passou por isso. Uma versão um pouco maior dele está no livro “Era uma vez… os contos como terapia”, do Instituto Girassol do Brasil, onde o recolhi.
Era uma vez uma princesa que estava apaixonada por um capitão de sua guarda e, apesar de só ter 17 anos, queria se casar com ele de qualquer jeito. Seu pai lhe dizia:
– Você não está preparada para isso, é muito jovem e as vezes caprichosa. Se procura no amor só a paz e o prazer, não é o momento de se casar.
– Mas pai, eu seria tão feliz com ele que não o deixaria nem um minuto! Nós dois compartilharíamos tudo, até nossos sonhos mais secretos!
O pai refletiu. Sabia que as proibições fazem aumentar o desejo, lembrou-se do ditado: “quando o amor te chamar siga-o, mesmo que o caminho seja difícil e penoso”, e por fim disse:
– Filha, vamos fazer um teste. Você e ele ficarão trancados numa cela por quarenta dias e noites. Se no fim desse prazo ainda quiser se casar com ele, isso vai mostrar que está preparada e eu consentirei.
A princesa ficou contentíssima e claro que aceitou fazer aquela prova.
No começo tudo foi maravilhoso entre o casal. Porém, passada a excitação e euforia, o dia a dia foi virando rotina e depois aborrecimento. O que no início era só felicidade se transformou num vai e vem entre dor e prazer, tristeza e alegria.
Antes de duas semanas a princesa já sentia falta de outras companhias. Depois de três semanas, estava tão farta do capitão que começou a gritar e bater na porta da cela.
Quando conseguiu sair, ela abraçou fortemente seu pai, agradecendo-lhe por tê-la livrado daquele aborrecimento. E quando se acalmou pediu-lhe que lhe ensinasse sobre amor, paixão e casamento.
Então seu pai disse que ia deixar um poeta falar por ele:
Amai-vos uns aos outros, mas não façais do amor uma prisão.
Que haja, antes, um mar ondulante entre as praias de vossa alma.
Encham as taças um do outro, mas não bebais da mesma taça.
Compartilheis o pão, mas não comais do mesmo pedaço.
Cantai e dançai juntos e sedes alegres, mas deixai cada um estar sozinho.
Assim como as cordas da lira estão separadas e no entanto vibram na mesma harmonia,
Dai vosso coração, mas não o confieis à guarda um do outro,
Pois somente a mão da Vida pode conter vosso coração.
Permanecei juntos, mas não demasiadamente juntos,
Como as colunas do templo que se erguem separadamente,
E o carvalho e o cipreste que não crescem à sombra um do outro. *
*trecho de “O matrimonio”, de Gibran Khalil Gibran.