Conto de bruxas
Esse é um conto celta no qual bruxas modernas fazem o trabalho antigo de abençoar a terra para a renovação da vida. É um ritual astral feito um dia antes do equinócio, a virada do ciclo anual que dá início à primavera.
Um conto da Velha – Virando o ciclo da balança no Equinócio.
Fiz hoje uma curta caminhada até o espinheiro. Amanhã o nascer do sol do Equinócio dourará as pedras do meu monte. Agora os brotos das sementes surgem da terra, pequenas folhas enrolam-se nos galhos. Mesmo assim, há um sopro de neve no ar e nestes dias cinzentos não me afasto muito da lareira.
Em casa, o fogo despertou, fico sentado olhando para as chamas. O telefone toca, os reflexos se quebram. Duas vozes, tão parecidas com as minhas, sussurram na linha.
– Hoje à noite, não é?
Eu aceno em resposta:
– Sim, vamos mexer a balança.
Mais tarde, com o fogo baixo, ouço a casa suspirar e se instalar na noite. Uma vez que é narrada, a história de nós – três Bruxas que impulsionamos um novo crescimento da terra no Equinócio – essa história se torna quase verdade.
Minhas irmãs e eu trabalhamos quando a luz e a escuridão são iguais sobre a terra. À medida que as sombras se aprofundam, meus olhos se fecham, a respiração fica mais lenta e eu gentilmente deslizo para longe. Subo para viajar por estradas pavimentadas sem precisar de nem de vassoura nem de cavalo.
O sono cobre as aldeias por onde passo, uma noite tranquila neste mundo. Sobre pântanos congelados e rios íngremes, eu subo e voo acima da colina.
Há uma nuvem de flocos de neve enquanto me acomodo em Sliabh na Caillíghe, onde antes saltávamos e atirávamos as pedras que agora carregam lendas. No meu lugar dali, vasculho a ilha adormecida com meus olhos penetrantes. Sim, o terreno está pronto, maduro para crescer.
Eu libero meu uivo de saudação na escuridão. Uma explosão gelada trazendo risadas responde: é minha irmã que está em Gullion. Um momento depois, o grito de Bheara responde.
E nós, três Bruxas, estamos prontas. O ponto de virada se aproxima.
No monte, naquela pedra, respirando a geada entramos na quietude negra. Neste útero, o ar, já carregado com o perfume do ulme que ainda não floresceu, muda à medida que traçamos formas dentro das pedras. Os padrões que terão já dançaram na terra em ritmo com a terra, o mar e o céu.
Nós três nos movemos como uma só, circulando no sentido do sol, tecendo as palavras:
Bondade em sementes, grama e grãos!
Bondade em flor, fruto e ramo!
Terra de bondade para nutrir o nosso povo!
Uma onda repentina, uma torrente que vem do amarelo do sol maduro, nasce através da terra. O ponto de equilíbrio se inclinou. A terra se inundou de vigor mais uma vez.
Na manhã seguinte, agito as brasas de volta ao fogo e coloco a chaleira no fogão. Meu trabalho está concluído até a colheita.
Autora: Jane Brideson