Bruxas
Antigamente eram apenas figuras “do mal”, mas hoje já vemos também um aspecto bom nelas. E isso é melhor, porque a bruxa é uma figura arquetípica da Grande Mãe, que tem (como nossas próprias mães, nénão?) aspectos sombrios e luminosos. Quando a bruxa (que pode ter o nome de Isis, de Kali, etc) está irada, é destruidora, malvada, vingativa; e quando está bem é nutridora, acolhedora, sábia (de novo, como nossas mães, e nós mesmas, né?).
Pois é isso que somos: sombra e luz. Dizem os junguianos que não é bom querer ser apenas a perfeita bondade, como não é bom ser complacente demais com a própria maldade. A balança do equilíbrio tem dois pratos…
A gente pode ver isso pelo que aconteceu nesse episódio da história oficial das bruxas humanas, há umas centenas de anos atrás. Quando representada pela Virgem Maria, a Grande Mãe apresenta apenas seu lado luminoso.
Consequentemente, na época do maior apogeu da Virgem, que foi na Idade Média, as mulheres comuns eramqueimadas em pencas. Não só por terem aspectos negativos, como todo mundo tem, mas as vezes simplesmente porque assustavam por destacarem-se da média, por exemplo por serem benzedeiras, conhecedoras de ervas, independentes ou introvertidas demais…
Ou seja, para os donos do poder exclusivamente masculinos, a imagem oficial da mulher estava muito elevada, formando um padrão imaginário impossível de acompanhar. É assim, diz Jung, que a humanidade trata os arquétipos (outro nome para esses seres divinos ou mágicos): lidamos com suas imagens de modo concreto, tanto dentro como fora de nós, conforme a maturidade emocional que temos. Isso é uma coisa humana mesmo; a Virgem Maria não tem nada a ver com crueldades feitas em seu nome por ignorância, arrogância, medo ou neurose.
Essa é um dos aspectos da interessante história das bruxas. Há mais muito a dizer sobre elas, mas hoje fico por aqui. Feliz Halloween a todas!
Post de Bia Del Picchia, baseado na obra de Marie-Louise von Franz “A sombra e o mal nos contos de fada”, coleção Amor e Psique.