“Botando o pé na estrada” rumo a uma vida mais plena
Vamos voltar a falar da Jornada do Herói – modelo mítico e também metáfora poderosa para ajudar a guiar pessoas reais na busca da sua singularidade e do sentido para a vida.
No mito ou na vida, essa jornada sempre começa com um CHAMADO À AVENTURA. Pensando na vida real, se recusarmos esse Chamado em função das dificuldades enormes que implicam em dizer SIM a ele – e que tratamos em artigo anterior – estamos na etapa da RECUSA.
Mas parece que nossa alma não desiste nunca de florescer em plenitude e cumprir o que veio fazer aqui e, mesmo com nossa recusa, muitos e muitos Chamados voltam a ser recebidos!
Então, se quisermos ser fieis a nós mesmos, chega um dia em que aceitamos a inevitabilidade da mudança e “botamos o pé na estrada” rumo a nossa mais profunda individualidade, à nossa vocação com V maiúsculo ou até a nossa missão.
Fazemos a TRAVESSIA DO PRIMEIRO LIMIAR, a última etapa da fase da Ruptura: entramos de fato na jornada.
Isso acontece porque aceitamos de coração, mesmo que com muito medo, que temos que ir a busca de algo que torne nossa vida mais rica, mais plena e mais de acordo com o que somos em essência, como pede nosso Chamado.
Como disse uma mulher em seu depoimento no nosso livro Mulheres na Jornada do Herói – pequeno guia de viagem “… aquela mudança que antes me parecia impossível passou a ser inevitável!”
Partimos então em busca das respostas as questões que nosso Chamado nos colocou.
Mas, onde buscar? Com quem buscar? O que buscar afinal?
Não existe uma única resposta a essas perguntas! Claro que, se é uma busca do mais profundo de nós mesmos e como, para a grande possibilidade de riqueza humana, somos seres únicos, não existe uma fórmula mágica, uma só resposta.
Faz parte da jornada esse “buscar meio as cegas”, esse tatear, esse construir um caminho próprio. Também por isso a jornada é uma Aventura!
O que é essencial na TRAVESSIA DO PRIMEIRO LIMIAR é aceitar a necessidade da mudança e sair ativa e corajosamente em busca de novas respostas, mesmo sem saber direito como. É um fazer o caminho ao caminhar!
E podemos achar o que procuramos em qualquer coisa, pessoa ou experiência: em mestres, em gente já em jornada, em grupos ou comunidades alternativas, em terapias, em livros, na arte, em práticas corporais, em práticas meditativas, em religiões, em oráculos, em sonhos, em retiros, em estudos, em cursos, em viagens, em peregrinações, etc etc etc…
E na verdade o mais comum é acharmos nossas respostas em vários lugares ao mesmo tempo.
O que é mais importante é buscarmos o novo para nós. É experimentar viver situações nunca vividas, é nos abrir para aprender coisas que nem suspeitávamos existir, é ter coragem para ir onde nunca estivemos antes.
Pois, como querer criar o novo sem saltar para o desconhecido? Fazer mais daquilo que já conhecemos não vai trazer, de fato, nenhuma transformação. Aquilo que já fazemos vai sempre nos levar para o lugar onde estamos hoje!
Atravessar o primeiro limiar é “pisar territórios desconhecidos para nossos pés e coração”. É aceitar ser um real explorador na e da vida!
Mas, se não existem fórmulas ou respostas únicas que sirvam a todos, posso dar algumas dicas para você fazer sua TRAVESSIA:
- Não tenha medo de ousar, de se arriscar – tente algo diferente, algo que nunca fez, que talvez até te traga algum receio ou que você tenha certo preconceito: pode ser que surpreendentemente aquilo te traga respostas e insights que você nunca obteve antes. E se não for assim, tudo bem, simplesmente não faça mais!
- Não tenha medo de errar – é quase igual à dica anterior, mas o medo do erro está tão arraigado na nossa cultura que exalta a perfeição, que o receio de errar pode se tornar paralisante. Temos que reaprender que errar faz parte de qualquer caminho verdadeiro e a gente aprende, e muito, com os erros também. Se a criança pequena desistisse de andar porque caiu, engatinharia para sempre.
- Não tenha medo de não saber – a gente só aprende o que não sabe: “não saber” faz parte do processo, portanto tenha a sábia atitude de não ter vergonha de ser aprendiz.
- Não fique espalhando, contando a todos indiscriminadamente suas experiências – pessoas que não estão em jornada tendem a projetar, a “jogar” em nós suas próprias dúvidas, seus preconceitos e acima de tudo seus medos e disso não precisamos nesse momento, bastam os nossos.
- Confie cada vez mais na sua “bússola interna” – use muito mais suas sensações internas, sua intuição para sentir se deve prosseguir ou mudar o rumo de sua caminhada do que os conselhos dos outros: afinal é a SUA jornada.
- Aproveite o processo – não foque só nos resultados, curta seu processo de busca, afinal CAMINHAR pode ser tão maravilhoso quanto CHEGAR!
BOA TRAVESSIA!
Esse artigo foi publicado anteriormente no site http://www2.uol.com.br/vyaestelar – na categoria A MULHER E O MITO, na qual escrevo quinzenalmente.
Texto e desenhos de Cristina Balieiro, criação gráfica de Beatriz Del Picchia