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Bari, a xamã coreana – parte final


Ao chegar ao palácio viu que estava acontecendo uma cerimônia fúnebre; os reis, depois de anos de sofrimento com a doença misteriosa haviam finalmente morrido. Então Bari Gongju fez um milagre: aspergiu a água medicinal em seus corpos e os trouxe de volta à vida.
O rei ficou tão agradecido que ofereceu um lugar de honra no palácio para ela, o marido e os filhos morarem, mas ela recusou a oferta. Queria voltar para o mundo espiritual, para a Montanha Sagrada e o Mundo dos Mortos com toda sua família. E assim o fez.
Foi dessa forma que Bari Gongju, a princesa abandonada, se tornou a primeira xamã coreana e a deusa que guia as almas dos mortos em sua jornada final.

Hoje o xamanismo coreano convive, de forma paralela, com outras religiões, especialmente fora dos modernos centros urbanos. É praticado especialmente por mulheres do povo que são chamadas de “mudang”, que quer dizer xamã em seu dialeto. A contação do mito de Bari Gongju faz parte de rituais fúnebres e serve para ajudar os mortos no seu caminho para o Outro Mundo.
Essa lenda também é contada para mulheres, em um tipo de ritual xamânico, como forma de libertá-las do han – o ressentimento – que os coreanos consideram que atrapalha muito a vida da pessoa, além de dificultar a passagem para o Outro Mundo quando ela morre. A princesa Bari oferece as mulheres coreanas um modelo feminino mais amplo que o limitado e submisso papel dado a elas pela cultura coreana, fortemente patriarcal. Essa repressão feminina pode gerar muito han, e ouvir essa história ajuda a liberar o ressentimento acumulado.
Afinal, apesar de Bari Gongju fazer sua jornada para salvar os pais que a abandonaram, mostrando ser uma filha exemplar dentro da visão coreana, fez seu caminho sozinha de forma muito corajosa, tomando decisões e agindo por conta própria. E no final se recusou a viver a vida do pai (recusou a oferta de morar no castelo) e escolheu ter sua própria vida, morar onde queria e virar uma xamã. Nesse sentido, para as mulheres coreanas, é um exemplo feminino libertário e ouvir sua lenda é, de alguma forma, curativo.

Trechos do livro O LEGADO DAS DEUSAS 2

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