ADOÇÃO, de Elisa Lucinda
Quando você sentir que está se perdendo de você, não perca tempo, olhe no espelho e diga com força:
Adoção
Não sei se te contei
mas há algum tempo sou minha
me adquiri num mercado
onde o escambo era a posse da liberdade
me obtive numa dessas voltas da morte
me acolhi num desses retornos do inferno.
Dei banho, abrigo, roupas, amor enfim.
Adotei o meu mim
Como quem se demarca e crava em si o mastro da terra à vista
a cheiro, a tato, a trato, a paladar e ouvido.
Não sei se te contei
me recebi a porta da minha casa
abracei, mandei sentar
Abracei eu mesma, destranquei a porta
que é preu sempre poder voltar.
Dei apenas o céu à sua legítima gaivota
Somos a sociedade
e ao mesmo tempo a cota
Visita e anfitriã
moram agora num mesmo elemento
juntas se ancoram
na viagem das eras
No novelo do umbigo
No embrião do centro
No colo do tempo.
Lindo demais!!
Isso é adotar a criança interior, brincar com ela,amá-la de verdade, apesar de tudo o que possa ter fragilizado sua existência. Substancial alimento matinal.
Plena gratidão.
Heloisa, os poetas são demais!!! Gratidão pela sua visita.
Cris
Excelente!