O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

A menina perguntadeira: Cida (Maria Aparecida Martins)

Fiz esses contos com intenção de “traduzir” para a linguagem mitológica alguns aspectos da vida real da mulher entrevistada no nosso livro O feminino e o sagrado: mulheres na jornada do herói.
Então, para esclarecer os que ainda não leram o livro e relembrar a quem leu, antes do conto há um pouco da biografia da pessoa a quem se refere.


Nós conhecemos a Cida fazendo um workshop sobre mediunidade, em sua clinica. Dias depois fizemos a entrevista, onde ela foi tão didática, lúcida e divertida quanto tinha sido no workshop.
As experiências pelas quais passou a levaram a ir buscar conceitos e explicações tanto na ciência quanto nas tradições, e os conceitos que estudou a levaram a ir buscar experiências que os confirmassem ou desmentissem. Ou seja, no nosso entender, ela une prática com teoria da melhor maneira possível: na vida cotidiana, vivida com curiosidade, com a mente aberta e sem medo.
Cida é pedagoga, aposentou-se como professora, é casada, quatro filhos. Fundou e dirige uma clínica para lidar com os diferentes aspectos da mediunidade, dos dons paranormais, das chamadas emergências espirituais, sem credo religioso.

Certo dia, uma menina tropeçou num buraco e caiu.
Quando acontece uma coisa assim, a maioria das pessoas chora ou xinga. Mas não essa menina.
Ela se levantou, olhou para o buraco e perguntou:
– O que é isso?
Ajoelhando para olhar lá dentro, descobriu que o buraco era um vazio de terra. E perguntou:
– Para que serve isso?
Descobriu que aquele buraco servia para ser uma toca de ratinhos. E perguntou:
– Como isso é feito?
Descobriu que podia fazer buracos escavando o chão. E perguntou:
– Como posso usar isso?
Claro que em pouco tempo ela descobriu tudo sobre buracos.

Sempre que topava com uma novidade, a menina usava esse método.
Pegava a novidade, olhava, sacudia, fazia perguntas, testava aqui, testava ali, e, experimentando, ia enfiando-se por todo canto onde alguma pergunta pudesse pairar, e onde algum assunto restasse por aprender.
Ela era tão curiosa, que queria saber tudo sobre esse mundo de Deus, e sobre Deus nesse mundo.
Como isso é assunto que não acaba mais, ela resolveu entrar para uma Escola para poder aprender de um modo mais fácil.

Mas o povo dessa Escola disse que ela fazia as perguntas erradas, porque lá não se podia fazer nenhuma pergunta que não estivesse na sua CARTILHA DE PERGUNTAS PRONTAS.
Ela não achou que aquilo funcionava, de modo que foi procurar outra Escola.
Logo descobriu que essa também tinha sua CARTILHA DE PERGUNTAS PRONTAS, só que era uma Cartilha diferente da outra.
Como a menina disse que não deveria existir nenhuma Cartilha desse tipo, foi expulsa dessa Escola.
– Menina metida, disseram.
– Metida e curiosa – ela respondeu, mostrando a língua para todos eles – E querem saber mais? Eu mesma vou abrir minha Escola! E lá não vai ter nenhuma Cartilha de Perguntas Prontas!

Claro que logo ela estava estudando-planejando-experimentando ter sua própria Escola, que já está aberta e funcionando.
Está mesmo com as portas bem abertas, para pessoas de mentes igualmente abertas, que têm coragem de fazer perguntas que não estão em Cartilha nenhuma.

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