A iniciação de uma xamã mapuche
Doença grave, experiencia de êxtase e retorno à vida com poder de comunicar-se com o outro lado é um roteiro clássico de como alguém vira xamã. Complementando a série de xamanismo, trago trecho de uma iniciação feminina e descrição de outras que acontecem entre os índios mapuches que vivem na Terra do Fogo, sul do Chile. A fonte é do antropologo Mircea Eliade, que escreveu o livro referência do assunto, detalhes abaixo.
“Na América do Sul assim como na Austrália ou na Sibéria, tanto a vocação espontânea quanto a busca iniciática implicam uma doença misteriosa ou um ritual mais ou menos simbólico de morte mística, sugerido às vezes por um despedaçamento do corpo e uma renovação dos órgãos.
Entre os araucanos, a escolha geralmente se manifesta por uma doença repentina: o jovem cai “como morto” e, quando recupera as forças, declara que irá tornar-se machi (xamã).
Uma filha de pescadores contou ao Pe. Housse: “Eu estava colhendo conchas nos recifes quando senti como um choque no peito, e uma voz de dentro disse-me claramente: ‘Torne-se machi. É minha vontade!’ Ao mesmo tempo, dores violentas nas entranhas fizeram-me perder os sentidos. Era evidentemente o Ngenechen, o dominador dos homens, que descia em mim.”
Em geral, como nota com justeza Métraux, a morte simbólica do xamã é sugerida por desmaios prolongados e pelo sono letárgico do candidato.
Os neófitos yamanas da Terra do Fogo esfregam o rosto até que apareça uma segunda ou até mesmo uma terceira pele, “a pele nova”, visível somente para os iniciados”. Entre os bakairis, os tupiimbas e os caraíbas, a “morte” (causada por sumo de tabaco) e a “ressurreição” do candidato são formalmente atestadas”. Durante a festa de consagração do xamã araucano, os mestres e os neófitos andam descalços sobre o fogo sem se queimarem e sem que suas roupas peguem fogo.”
Fonte: Xamanismo e as técnicas arcaicas do êxtase, Mircea Eliade