A importância das histórias de vida
O mito também leva a movimentos práticos. O mais prático de todos é encarar sua biografia segundo as idéias sugeridas nos mitos – idéias de vocação, alma, destino.
James Hillman
Ver nossa própria história de vida utilizando essas dimensões – vocação, alma, destino – que o grande psicólogo James Hillman sugere, pode dar nos dar outra identidade, outro sentido. Reinterpretando nossa vida, podemos rearranjar acontecimentos, dando a eles novos significados!
Ao “nos contar”, especialmente para nós mesmos, precisamos juntar a nossa história familiar passada, nossa origem; a nossa gama de experiências pessoais e a compreensão e transformação que obtivemos a partir delas e o nosso projetar no futuro, a busca incessante daquilo que fala à nossa alma.
E tudo junto, ao mesmo tempo!
Uma nova dimensão simbólica pode surgir e o vivido adquire um novo patamar de compreensão.
É ao conseguir ver nossa biografia dentro de uma dimensão ao mesmo tempo histórica e mítica é que damos a ela a honra que ela merece!
Isso, é claro, desde, tenhamos tido a coragem de seguir o que nossa alma pediu e nos tornamos nós mesmos e não um ser amorfo e coletivo.
É por isso também que ouvir a história de vida de alguém que foi fiel a si mesma é algo que nos traz alento, coragem, estímulo para construirmos a nossa própria história!
Escutar outra pessoa com arte nos amplia, enriquece, alarga, instrui, diversifica, matiza, ilumina e num aparente paradoxo, nos traz mais perto de nós mesmos!
Precisamos abrir espaço em nossas vidas tão cheias de afazeres e pobre de sentido para essa escuta curadora!
Escutar uma história de vida, contada por quem a está vivendo é uma benção para os dois lados.
Para quem conta é a oportunidade de ver os acontecimentos sob outra perspectiva e dar outro significado, mais amplo, mais generoso, mais completo!
Para quem escuta é a oportunidade de, através das experiências do outro, poder ampliar a visão das possíveis experiências a serem vividas, além de ser um momento em que podemos nos maravilhar com a “construção” de uma individualidade!
Recontar a vida pode trazer à biografia a estética e a grandeza que uma vida bem vivida sempre possui!
A história de uma vida vivida com plenitude, com tudo de luminoso e sombrio que contém, é uma entidade viva que pode nos ajudar a viver.
Por isso, contar e ouvir histórias é remédio, é cura!
É um compartilhar que nos fortalece e nos humaniza.
Texto e ilustração de Cristina Balieiro
Esse artigo foi publicado anteriormente no site http://www2.uol.com.br/vyaestelar – na categoria A MULHER E O MITO, na qual escrevo quinzenalmente.