A busca pelas heroínas
1. A BUSCA
Desde o início nosso foco foi o universo feminino e mais especificamente a trajetória de mulheres. Suspeitávamos existir uma gama de mulheres, não muito conhecidas publicamente, que empreenderam jornadas únicas e que no seu caminhar defrontaram-se com a dimensão sagrada da vida. Sabíamos que os relatos de “suas viagens” poderiam servir de estímulo para que outras buscassem seu caminho.
Nosso trabalho começou, então por buscar mulheres que reunissem dois requisitos básicos: ser uma pessoa original, com uma individualidade fortemente estabelecida e ter uma trajetória onde a busca daquilo que transcende os limites do mundo cotidiano fez parte do caminho. E o que queríamos ao encontrá-las era conhecer suas histórias de vida.
Acreditávamos que suas histórias ampliasse a compreensão de como elas chegaram a se tornar, de fato únicas e de ao mesmo tempo viver uma experiência espiritual.
Mas porque esses interesses, o que buscávamos? Em primeiro lugar, porque buscar mulheres singulares, únicas em sua expressão?
Nós acreditamos que todos nascem únicos, singulares. Cremos que cada pessoa nasce para se tornar quem, mais autenticamente, ela é. Essa é a principal “tarefa” de cada um, especialmente nos anos de maturidade. É na especificidade de cada homem ou mulher que está contida a riqueza humana. Como na visão de James Hillman, o grande psicólogo junguiano, o carvalho está contido em sua semente e não poderá tornar-se outra árvore. Pode atrofiar-se e não virar um carvalho em todo seu esplendor, mas nunca será mangueira ou jatobá.
Hillman diz que todos trazemos uma imagem primordial que corresponde à escolha de nossa alma e que é essa imagem quem deve guiar o indivíduo que cada um vai se tornando no correr da vida. Essa imagem “é portadora do fado e de fortuna da pessoa”. Ou, como diz Caetano Veloso em sua canção: “cada um sabe a dor e a delícia de ser quem se é”.
Mas, a teoria do “fruto da carvalho” não é uma visão fatalista do destino imutável e previamente traçado. O “fruto do carvalho” é um chamado que exige a escolha de dizer SIM a ele. A pessoa tem que escolher e aceitar tornar-se cada vez mais ela mesma. E, ser fiel a si mesmo e as seus anseios mais profundos não é uma tarefa fácil.
A cultura de massa, de busca de modelos externos de perfeição, as fórmulas padronizadas e idealizadas de sucesso, a pressão para conformar-se conspiram, de forma impiedosa, contra isso. Sair dessa pressão e buscar responder ao chamado da própria alma torna-se um ato de ousadia (aliás, falar em busca da alma hoje, já é um ato de ousadia).
E por que existem pessoas que respondem a esse chamado interno e se tornam pessoas singulares, mesmo pagando alto preço por suas escolhas, enquanto outras sucumbem à pressão da cultura e vivem dentro de clichês? O que faz com que alguém decida não seguir os modelos dominantes, mas um caminho só seu?
As mulheres que entrevistamos disseram SIM ao chamado e escolheram, mesmo com muitos percalços, seguir seu próprio caminho. De que forma conseguiram isso? Queríamos conhecer suas histórias, suas escolhas, suas hesitações, medos, conquistas. Talvez elas nos fornecessem um mapa…