Iamis Oxorongá: as Senhoras dos pássaros – parte 1
Dentro da mitologia africana/iorubá, as Iamis são semi divindades que lidam com o poder feminino e que pertencem ao mesmo tempo ao plano divino e ao plano humano. Iami quer dizer MÃE. São também as ancestrais femininas.
Seu principal poder é o de dar vida e tirá-la. São donas da vida e da morte, pelo poder procriador que é das mulheres – se todas as mulheres decidirem não engravidar a humanidade desapareceria.
Saem do corpo e podem estar em dois lugares ao mesmo tempo, por isso são as senhoras dos pássaros. Descansam aos pés de Iroko, onde se transformam em grandes pássaros noturnos. É o ser alado, que possibilita ao poder e ao espírito das Iá Mi viajarem livremente entre os mundos, material e espiritual.
Para que a magia funcione elas têm que aceitar. Para que os ebós/os trabalhos/os pedidos sejam aceitos pelos Orixás as Iamis tem que concordar. Por isso devem ser cultuadas e participar dos trabalhos. É impossível cultuar as forças da natureza e conseguir que as oferendas sejam aceitas sem invocar a presença e o poder das Iamis. – nesse sentido compartilham o poder mediador entre o Orum e o Aiê com Exú. Seus assentamentos ficam junto as grandes árvores e geralmente são enterrados.
Sua maior manifestação é a noite e na madrugada. Como trabalham com o ar / vento podem chegar rapidamente em qualquer lugar, quando invocadas.
A característica de velhas-feiticeiras está ligada à concepção africana de que a sabedoria e acúmulo de poder só vêm com a idade, com a experiência de vida. Assim, as Mães Ancestrais por ter vivido muito tempo, por conhecerem os segredos da vida, são feiticeiras, ou seja, podem manipular através da magia, o nascimento e a morte. Possuir o poder de controlar a vida tem dois aspectos, pode-se utilizá-lo tanto para o bem quanto para o mal. Não há um código moral dicotômico que proíba as Iá Mi de fazerem o que lhes agrade.
Segundo Verger, a feitiçaria cumpre em várias culturas uma função de moderador social. “Cada vez que alguém se eleva, a feitiçaria está lá para o abaixar”. Assim, também as Iá Mi, como feiticeiras, “através de sua ação, [ela] exerce um papel moderador contra os excessos de poder; mediante suas intervenções, ela contribui para garantir uma repartição mais justa das riquezas e das posições sociais; ela impede que um sucesso por demais prolongado permita a certas pessoas controlar exageradamente umas e outras”.