As mil e uma noites no centro de São Paulo
Essa exposição é maravilhosa como um tapete voador – já fui vê-la duas vezes, e ainda vou voltar.
Há jarras de bronze enfeitadas com turquesas, vestidos em camadas de seda ou de brocados bordados, sapatos com solados de trinta centímetros de altura, descomunais bandejas de cobre que parecem mandalas, móveis incrustados de madrepérola, jóias de prata em filigranas… é, coisas das mil e uma noites!
Eu fiquei total e maravilhosamente perdida, durante muito tempo, em frente a um tapete em tons de azul, com volutas que vão se enchendo de dragões, aves-do-paraiso, flores, tigres, veados. Outros tapetes floridos, na maioria em profundos vermelhos, reproduzem os jardins de seus ricos donos. Não à toa, a palavra paraíso, de origem árabe, significa “jardim murado”.
Em outra sala, podemos criar padronagens geométricas em mesas digitais, rivalizando com os belos azulejos expostos na parede à frente. Ao lado, passeios virtuais nas mais importantes mesquitas e monumentos.
Para mim, uma coisa que pegou forte foi a caligrafia (no 3 andar), que no Islã é uma forma artística privilegiada. A interdição religiosa ao desenho figurativo tornou a caligrafia ainda mais refinada.
Em árabe, caligrafia é khatt, do verbo khakta, que significa traçar uma linha… ou seja, desenhar. A escrita é, antes de tudo, desenho; arte em si mesma, ela corre livre e solta sobre rígidos fundos geométricos, que são estilizações de formas da natureza. Há algo mágico, talvez místico, na escrita e nas palavras em si.
Mas, além disso, há o sentido delas, é claro. Frases expressivas estão escritas nesses quadros:
“Cria o que vocês não conhecem”
“O futuro pertence àqueles que acreditarem na beleza de seus sonhos”
Essas palavras, aqui só significado, que escrevo no meu computador, não chega aos pés da experiência de vê-las no contexto. Recomendo!
Islã – arte e civilização
Centro Cultural do Banco do Brasil
Rua Alvares Penteado, 112, metrô São Bento, SP
Até 27 de março
Entrada franca
Texto de Beatriz Del Picchia