O amor e o desenvolvimento pessoal
Olhe essa figura que coloquei acima, feita em cima de uma obra de Gaudí. O coração é formado por caquinhos coloridos, pedacinhos de coisas que foram inteiras e que guardamos, com carinho, no desenho que vamos formando de nossas vidas. Muitos desses caquinhos podem ter sido, por exemplo, amores vividos.
Para todo mundo, os relacionamentos amorosos são muito importantes para nosso desenvolvimento pessoal.
Mas para certas pessoas, mais do que para outras, o amor é o foco central de investimento energético e amadurecimento.
Em Jung e o tarô, Sallie Nichols diz que:
“Uma profunda experiência de amor inicia, muitas vezes, a busca da individuação. A literatura oferece muitos exemplos… Em nossa vida pessoal um envolvimento de coração assinala também, de ordinário, um ponto crítico significativo em nosso desenvolvimento. Um amor nessas condições surge como um ato do destino, uma sina inevitável” (pg 143)
Por exemplo, conheço um rapaz que vai mudando de namorada e se modificando num processo de mutua correspondência.
Seu primeiro relacionamento sério foi com uma menina bastante libertária, e quando terminaram ele havia feito a transição de menino para homem independente da família. Com a segunda, uma estudiosa, ele entrou numa pós graduação e se firmou no plano intelectual; com a terceira, uma executiva, mudou de rota profissional, com a quarta…
Não acho que simplesmente ele foi influenciado por elas.
Ao contrario, elas parecem ser espelhos dos seus processos íntimos, projeções do que vai dentro de si mesmo, para usar o termo junguiano…
E não apenas do que ele é no momento, mas no que quer, ou tende, a vir a ser. Assim, procura essas musas que o levam, mão na mão, para o desabrochar de suas próprias potencialidades.
Claro que se a gente procurar esse desabrochar apenas de forma extrovertida, externa, através de uma ou de uma serie de ligações, pode não haver crescimento algum. É preciso sempre trazer a experiência para casa, para o interno – quer dizer, absorver e integrar.
Também não estou esquecendo os fatores de destino, irracionais, os sininhos que tocam nos apaixonamentos, ou seja, a maravilhosa gratuidade disso.
Mas, se em todas as experiências que passamos existe um potencial de crescimento, ou seja, são convites para adentrarmos na Jornada, vamos combinar que entrar pelo amor – desde que visto dessa maneira e não como solução para os problemas da vida – não é das piores maneiras de fazer isso, né?
Texto e criação gráfica de Beatriz Del Picchia