Duas ideias básicas do livro Para educar crianças feministas
Numa reunião, uma mulher de certa religião tradicional veio me falar:
– “Bia, eu sei que você lida com questões do feminino e quero dizer uma coisa. Tudo bem as mães trabalharem, mas acho que no começo da vida é importante que as crianças fiquem em casa, que não tenham que ir para a creche muito cedo. Será que não vale a pena fazer isso para o bem dos filhos”?
Eu respondi:
– “Bom, pode ser uma boa coisa, mas com uma condição: que a pessoa que vai largar do trabalho para ficar em casa possa ser tanto a mulher como o marido. Se é para o bem das crianças de ambos, isso é o justo, não acha”?
Ela ficou me olhando chocada, sem responder.
Mas esse é o ponto, não é?
Em seu livro que já é referência, Para educar crianças feministas, Chimamanda Ngozi coloca alguns pontos básicos não só para educar crianças mas também para pensar de forma feminista. Tipo, por exemplo, não ressaltar papéis de gênero tipo “isso é coisa de menina/isso é coisa de menino”, etc.
Mas se você quiser resumir e pegar as ideias básicas não apenas para educar crianças feministas mas até para avaliar as situações do dia a dia, foque nessas duas que ela ressalta e eu super concordo:
Primeiro, parta da premissa de que nós, mulheres e meninas, temos valor. Parece pouco, parece obvio, mas não é. A desvalorização feminina muitas vezes é sutil e feita tanto por homens como pelas mulheres, tanto em relação a si mesmas como com as outras. E atenção: ela também passa pela valorização de tudo que é masculino pelo simples fato de ser masculino.
Segundo, faça a pergunta: nessa proposta, a gente pode inverter a situação, colocando um homem no lugar da mulher ou viceversa, com o mesmo resultado? Essa foi minha questão com a mulher da reunião que contei acima.
Essa é a questão com qualquer mulher.