Uma arqueologia mítica do Feminino
A cultura em que a humanidade vive há mais de cinco milênios pode ser definida como patriarcal: uma cultura, entre outras coisas, hierárquica, que valoriza o princípio da força, do domínio e do que se pode chamar de Princípio Masculino. O patriarcado, porém, não é “coisa” de homem: é uma forma de organização social baseada no poder, seja militar, político, econômico e/ou social, que origina relações desiguais e excludentes.
Apesar de também ter prejudicado muito os homens, tem sido especialmente danoso às mulheres, tendo, na maior parte do tempo, subjugando-as, tirando tanto seu poder real quanto simbólico. Para além das limitações impostas aos direitos básicos políticos e sociais das mulheres, o patriarcado nos fere ao atribuir menor valor e importância a tudo que possa ser visto como feminino.
Desde o começo do século 20, no entanto, as transformações políticas, econômicas, sociais e tecnológicas pelas quais o mundo tem passado, especialmente no Ocidente, vêm alterando profundamente essa cultura. Aliado a isso e também como fruto dessas transformações, o movimento feminista (e outros movimentos libertários) vêm bombardeando essas práticas de submissão feminina – e de outras minorias – em termos políticos, culturais e nas relações cotidianas entre homens e mulheres. Tudo vem sendo remexido, questionado!
Mesmo assim, esses milênios de dominação ainda nos cobram um preço bem alto: eles ocultaram, distorceram e desonraram o Princípio Feminino. Nós, mulheres contemporâneas nascidas nessa cultura (que apenas engatinha para se modificar), não sabemos direito o que é ser uma mulher que não seja a definida pelo patriarcado.
Para ele, sempre fomos o segundo sexo, aquele visto a partir do primeiro, o masculino, e, claro, definido em função dele, e não como algo em si. Como cita a analista junguiana Marion Woodman, no livro A feminilidade consciente: “Enquanto a mulher aceitar a projeção arquetípica do homem, estará aprisionada na compreensão masculina da realidade”.
Precisamos juntas buscar saber o que é ser mulher, independentemente do que é ser homem. Não é uma tarefa fácil, pois há camadas e camadas de cultura e história encobrindo essa identidade. Precisamos agir como exploradoras de um território bastante desconhecido.
Esse trecho da introdução do meu livro O LEGADO DAS DEUSAS, explica o que eu e a Bia buscamos com os Encontros da Mitologia do Feminino, que começaram em setembro do ano passado e que acontecerá no sábado, dia 8 agora pela sétima vez. Queremos fazer uma jornada exploratória pelo território dos mitos tentando descobrir as raízes da identidade feminina hoje. E de como essas raízes vem nos limitando ou nos ampliando. O que devemos acolher, o que devemos descartar, o que precisamos transformar. Se você se sentir Chamada/o para essa viagem venha com a gente!
Lindo , lindo , lindo , lindoooooooooooooo!! Sinto que cada dia mais compreendo essa questão do patriarcado ser “o princípio da hierarquia” , que fere ambos os sexos e não só as mulheres.
Me senti completamente chamada, quero ir com vcss! Muito boa reflexão..