Uma queixa masculina: como as mães não devem criar seus filhos
A queixa é de que, mesmo sem querer e sem perceber, a mãe pode transferir para o filho os desejos de reconhecimento e companheirismo que não recebe do parceiro ou da vida. Desejos de que ele venha a redimir as grosserias de outros homens, de que ela venha a ter nele um companheiro de alma, de que ele realize algum roteiro heroico que ela não conseguiu…
E aí, como ficam os meninos que não tem condições de responder a isso? O que acontece com eles? “O menino encontra em si mesmo uma raiva inexplicável… e o homem que se sente culpado pode decidir-se a fracassar na primeira metade de sua vida.
Quem afirma isso é o poeta e pensador Robert Bly em seu livro João de Ferro, um livro sobre homens, referência no assunto. Abaixo trecho
“A ênfase dada nas últimas décadas à inadequação dos homens e ao mal do sistema patriarcal estimula as mães a não levarem em conta os homens crescidos. As mulheres contemporâneas também adquiriram consciência de suas ricas vidas interiores. (…) Uma mulher do sec XX sente em si complicadas sensibilidades que nenhum homem comum ou mortal pode satisfazer.
(…) E a esperança de mudança e realização cai sobre os filhos pequenos. A mãe volta-se para o filho em busca de satisfação emocional, e suas fantasias sobre isso podem ter-se aprofundado nos últimos anos. Não é incomum homens adultos voltarem-se para mulheres jovens como companhias sexuais; uma mulher adulta pode voltar-se para seu filho de oito anos em busca de uma companhia espiritual.
Suas fantasias podem incluir sonhos de que ele venha a redimir as grosserias de outros homens, que venha a desenvolver uma mentalidade aberta aos valores femininos e que ela venha a ter nele um companheiro de alma. Talvez em suas fantasias o menino venha a realizar algum roteiro heroico que ela não conseguiu. (…) Em suma, ela terá esperança de que ele venha a ser um amante melhor para a “sua mulher” do que seu pai foi ou é.
Centenas de homens me disseram que agora, aos 40 ou 45 anos, compreendiam que sua tarefa toda a vida tinha sido a de marido, amante e companheiro de alma substituto para sua mãe… Se eu perguntar a um homem desses: o que você sente a respeito dos homens? É provável que me responda: ‘nunca pude confiar neles.”…
O menino a quem a mãe fez exigências cedo demais sente-se impotente quando compreende que é muito pequeno para fazer o que lhe pedem (…) Não é raro que esse menino se sinta um fracasso em relação ao pai, com quem não tem praticamente nenhuma relação. E então, quando não pode salvar a mãe, sente-se um fracasso também em relação a ela. Começa a vida com um duplo fracasso.
É preciso sermos capazes de dizer essas verdades sem lançar a culpa sobre a mãe, pois Freud já lhe atribuiu, erroneamente, a principal responsabilidade. Toda tradição iniciatória, da qual Freud pouco sabia, lança a principal responsabilidade sobre os homens, em particular os mais velhos e anciãos rituais. São eles que tem que levar o rapaz. Quando não o fazem, o lado possessivo da Grande Mãe começará a prendê-lo, embora a mãe individual não queira que ocorra um aprisionamento negativo. (…)
Envergonhado pela sua inadequação, e com medo de ser arrastado para o lado da mãe antes de estabilizar-se como homem, o menino encontra em si mesmo uma raiva inexplicável, que impede a realização do sonho da mãe que ele seja um homem delicado. Essa raiva pode evidenciar-se quando o filho adolescente responde mal à sua mãe. (…)
Essa raiva pode revelar-se mais tarde de cem outras maneiras: isolamento, vício de trabalho ou comportamento de Don Juan leviano que estripa emocionalmente as mulheres e depois as menospreza. (…) O homem que se sente culpado pode decidir-se a fracassar na primeira metade de sua vida. É seu castigo por não ter salvo a mãe. Alguns homens adotam uma profissão que odeiam, cortam sua alegria…
Podem casar-se com a mulher errada em meio à sua culpa; outros pode ficar impotentes. Outros ainda podem tornar-se sedutores compulsivos e com isso continuar sentindo culpa por não satisfazer nunca as reais necessidades de uma mulher. Alguns homens que não conseguem salvar suas mães tornam-se terapeutas e tentam salvar repetidamente uma mulher. Eles arrancam com uma mordida as próprias emoções e ficam ouvindo as emoções de outras pessoas o resto de suas vidas.”
Eu acho que a gente tem que ser O QUE A GENTE É ; a mulher (mesmo quando mãe) tem que ser oq ela é , por mais estranho que seja isso………