As mulheres têm que ficar longe da mentalidade de vítima, diz Tenzin Padmo
“Em certa ocasião, perguntei a um lama muito elevado se ele achava
que as mulheres podiam realizar o estado de buda, e ele respondeu que elas podiam ir até o
último segundo, e então teriam que mudar para um corpo masculino. E eu indaguei:
– O que há de tão especial num pênis para se tornar iluminado? O que há de tão incrível no corpo masculino?
E também perguntei se há alguma vantagem em se ter uma forma feminina. Ele disse que ia embora pensar sobre isso. No dia seguinte, ele voltou e disse:
-Pensei no assunto e a resposta é não, não existe vantagem de qualquer tipo.
Eu pensei:
-Uma vantagem é que não temos um ego masculino. ”
Por essa amostra você já percebeu a estatura de Tenzin Palmo, uma monja budista empenhada na difícil tarefa de mudar a subalterna e depreciada posição feminina dentro do budismo tibetano. Contando para isso com o apoio do Dalai Lama (sempre maravilhoso), entre outras iniciativas ela levantou o convento Dogyu Gatsal Ling, em Ladash, para mulheres que queriam formar-se monjas, mas só lhes apontavam o caminho da cozinha…
Ela tem uma vida de verdadeira heroína: inglesa, hoje com 74 anos, bem jovenzinha ela descobriu o budismo, foi para a Índia e viveu 12 anos (!) sozinha numa caverna no alto do Himalaia. Imagine o frio intenso, o perigo de ataque por animais selvagens e bandidos, a parca comida, a solidão. Queria se iluminar, e de fato saiu de lá bem diferente do que entrou.
Porém, ao contrário dos que falam mal dos “monges isolados nas cavernas”, essa experiencia não a tornou uma pessoa desconectada da nossa vida cotidiana e comum. Basta ouvir um youtube dela – há um abaixo – para ver como ela é cheia de bom senso, bom humor e sabedoria totalmente aplicável no aqui-agora.
Isso inclui o trabalho que ela e outras mulheres seguem fazendo para que seja reconhecido o valor do feminino até pelos representantes das espiritualidades mais elevadas. O patriarcado exacerbado cega a todos… mas a espiritualidade verdadeira se abre à verdade, mais cedo ou mais tarde.
Tudo isso e muito mais eu li no excelente livro A caverna na neve, biografia de Tenzin Palmo escrita por Vicki Mackenzie. Não consegui largar até acabar.
Outra ideia dela merece destaque: Para reconhecer se um mestre espiritual é confiável e integro ou não, ”veja se ele dá atenção às mulheres velhas e desinteressantes tanto quanto dá às jovens e bonitas. Se for um verdadeiro lama, ele verá todas as mulheres como dakinis (entidades femininas sagradas), pois terá visão pura!” Mas ela acrescenta também que “somos perfeitamente capazes de nos guiarmos. Temos nossa sabedoria inata. Se você encontra alguém (um mestre) com quem tem uma conexão profunda, ótimo; caso contrário, o Dharma (os ensinamentos) estará sempre ali. ”