Penélope Insone
Essa linda poesia da mineira Mônica de Aquino foi-me apresentada por uma querida amiga, tecedora de belezuras, Patrícia Widmer, a quem agradeço muito!
Penélope Insone
Completar a urdidura do dia
saber do manto o desenho exato
saciar toda fome de geometria
conhecer o trabalho, no limite dos olhos.
Recriar-se inexata sem simetria
até terminar o diagrama de escolhas.
Só então destruir, com agulha e tesoura
cada amor imaginado.
Conservar apenas a memória das mãos
sobre o tecido, o percurso do fio
a desfazer o possível antes da aurora.
Penélope dissolve-se na hipótese:
quer conhecer, em detalhes, o manto
que a separa do outro.
Tece o pano como quem toca
o corpo de um homem, de cem homens
desfaz a mortalha como se destruísse um véu.
Fere a carne do pano, fere o dedo na pressa
e mancha, com sangue, a colcha de promessas.
Mas ante isso:
recusa o passado seus retalhos
prefere o que ainda não aconteceu
enquanto pensa: Ulisses, agora, sou eu.