Joseph Campbell, um grande estudioso de mitologia comparada, estudando mitos de heróis de diferentes épocas, culturas, povos, descreveu uma seqüência de acontecimentos comuns em quase todos eles e chamou essa seqüência de Jornada do Herói. Campbell e esse modelo se tornaram muito conhecidos no mundo todo, principalmente a partir de entrevistas que ele deu ao jornalista Bill Moyers que viraram uma série de televisão e um livro chamados: O PODER DO MITO.
Essa seqüência de eventos – a jornada do herói – além de ser comum a histórias de heróis lendários, serve também com perfeição como modelo para contar a história de vida de alguém que vive ou viveu com plenitude e inteireza, buscando sua mais profunda individualidade.
E, talvez ainda mais importante, pode servir de guia para que façamos nosso próprio caminho!
Vamos então conhecê-la um pouco melhor. Ela é composta de três grandes fases (cada fase é composta de várias etapas): a RUPTURA, a INICIAÇÃO e o RETORNO.
Na RUPTURA, o herói se lança ou é lançado do mundo conhecido para um mundo desconhecido e começa sua aventura.
Na INICIAÇÃO passa por uma série de peripécias, provas, se transforma e encontra um tesouro, que Campbell chama de BLISS.
E na terceira fase, o RETORNO, volta para o mundo de onde partiu trazendo o tesouro encontrado para ser compartilhado com o mundo.
Mas, porque esse modelo mítico serve de boa metáfora para as histórias de vida de quem vive de fato, com integridade, seguindo seu próprio caminho, mesmo pagando o preço dessa ousadia?
Porque “bancar” descobrir e ser nós mesmos e seguir o que pede nossa alma e nosso coração é uma jornada de fato e heróica, porque “remamos” contra uma cultura de massa, com modelos definidos rigidamente sobre o que é ser uma pessoa de sucesso e que, apesar de estimular o individualismo, não estimula a individualidade.
O caminho de quem faz isso reflete essas três etapas: a pessoa rompe com as expectativas que a família, a sociedade tem dela, passa por um longo período de busca e transformação, acha algo que dá a ela um significado para a vida e traz esse algo para ser compartilhado pelos outros.
A descrição que fiz da jornada foi extremamente resumida, claro: como disse cada fase é composta de várias etapas e é ao conhecer cada uma delas que podemos usar esse modelo como guia, se de fato queremos, precisamos e topamos bancar o preço de seguir nosso caminho de autoconhecimento e autoexpressão no mundo.
Hoje vou falar da primeira etapa da primeira fase da jornada, a RUPTURA: o CHAMADO A AVENTURA. Em artigo anterior escrevi sobre uma heroína fictícia que se olha no espelho um dia e não se reconhece e disse que esse era o Chamado a Aventura dela.
Como assim, você pode se perguntar???
Afinal não é um Chamado a Aventura?
Aventura pode vir de uma sensação de desconforto, de perplexidade, até de desprazer e vazio?
Na verdade o Chamado a Aventura, o canto de sereias que pede para descobrirmos que indivíduo realmente somos ou temos que nos tornar, nossa originalidade e o que viemos fazer nesse e para esse mundo, pode vir das mais variadas e diferentes formas possíveis!!!
Tão variadas formas como somos seres variados!
Mas podemos, talvez, classificá-los em três grandes formas de surgir.
- A primeira é no estilo da mulher do espelho: desconforto conosco mesmo, insatisfação com a vida, sensação de vazio e falta de sentido, não reconhecermos mais nós mesmos, até mesmo uma depressão.
- Em segundo lugar pode nos acontecer algo que tira nosso chão e faz com que tenhamos que nos reavaliar e reavaliar a vida totalmente, como uma doença, a perda de um emprego, uma separação, a morte de um ente querido, etc.
- A terceira, talvez mais fácil de ser reconhecida como um Chamado a Aventura, quando sentimos de forma quase irrecusável a vontade de “chutar o pau da barraca”, mudar tudo em nossa vida de forma radical, nos jogarmos no desconhecido.
Essas três formas não são estanques, podem inclusive surgir juntas e misturadas ou então sucessivamente – recebemos muitos Chamados na vida! Mas seja de que forma venha, um Chamado a Aventura está nos pedindo para sair da nossa zona de conforto (ou de desconforto) e partir em busca de uma vida de maior plenitude, vitalidade, sentido.
E você, já recebeu seu Chamado? Disse sim a ele?
Esse artigofoi publicado anteriormente no site http://www2.uol.com.br/vyaestelar – na categoria A MULHER E O MITO, na qual escrevo quinzenalmente. Texto e desenhos de Cristina Balieiro, criação gráfica de Beatriz Del Picchia
Relacionado