Uma lenda da Mulher Aranha, fada madrinha indígena
Uma boa e mágica avó: quem não teve ou gostaria de ter tido? Nas lendas indígenas norte americanas, a Mulher Aranha é a representação mítica desse poder feminino ancestral, grandioso e benigno. Ela tece nosso destino, dá orientações e formulas magicas – veja que linda a pequena oração na qual ela fala sobre o pólen: “Seus pés são pólen; suas mãos são pólen; seu corpo é pólen; sua mente é pólen; sua voz é pólen. A trilha é bela…” Nessa lenda, a Mulher Aranha ajuda dois heróis a cumprir sua jornada, como conta Joseph Campbell:
“Entre os índios americanos do sudoeste, a personagem favorita que desempenha um papel benigno é a Mulher-Aranha — uma pequena senhora, com aparência de avó, que vive debaixo da terra. Os Deuses Gêmeos da Guerra dos Navajos, quando se dirigiam para a casa do seu pai, o Sol, pouco depois de partirem de sua casa, seguindo uma trilha sagrada, cruzaram com essa prodigiosa pequena figura:
“Os garotos seguiam rapidamente pela trilha sagrada e, pouco depois de o sol se levantar, perto de Dsilnaotil, viram fumaça se elevando da terra. Eles se dirigiram para o local de onde a fumaça se elevava e viram que ela vinha da chaminé de uma câmara subterrânea. Uma escada, enegrecida pela fumaça, se projetava da chaminé. Olhando para a câmara, viram uma anciã, a Mulher-Aranha, que os mirou e disse:
– ‘Bem-vindas, crianças. Entrem. Quem são vocês e de onde vieram, caminhando juntas?’ Eles não responderam, mas desceram a escada. Quando alcançaram o solo, ela mais uma vez lhes falou, perguntando:Para onde vão vocês, caminhando juntos?’
-‘Para nenhum lugar em particular’, eles responderam, ‘chegamos aqui porque não tínhamos outro lugar para ir.‘
Ela fez a pergunta quatro vezes e sempre obteve uma resposta semelhante. E então disse:
–‘Será que vocês estão procurando seu pai?’
–‘Sim’, responderam eles, ‘se pelo menos soubéssemos onde ele mora.’
-‘Ah!’, disse a mulher, ‘é um caminho longo e perigoso o que leva à casa de seu pai, o Sol. Há muitos monstros que habitam nele e é possível que, quando vocês chegarem lá, o pai de vocês possa não gostar de vê-los e os puna por terem ido lá. Vocês têm que passar por quatro locais perigosos — as rochas que esmagam o viajante, os juncos que o fazem em pedaços, os cactos que o retalham e as areias escaldantes que o recobrem. Mas eu lhes darei algo que vencerá os seus inimigos e lhes preservará a vida.’
Ela lhes deu um amuleto chamado ‘pena dos deuses alienígenas’, que consistia em um arco com duas penas vivas (tiradas de uma águia viva), e outra, para preservar a existência deles. Ela também lhes ensinou uma fórmula mágica, que, se repetida diante dos inimigos, venceria sua ira:
–‘Baixem os pés com pólen. Baixem as mãos com pólen. Baixem a cabeça com pólen. Então seus pés são pólen; suas mãos são pólen; seu corpo é pólen; sua mente é pólen; sua voz é pólen. A trilha é bela. Fiquem parados’.”
A anciã solícita e fada-madrinha é um traço familiar das lendas e dos contos de fadas europeus; nas lendas dos santos cristãos, o papel costuma ser desempenhado pela Virgem, que, pela sua intercessão, pode obter a misericórdia do Pai. (…)
A Mulher-Aranha, com sua rede, pode controlar os movimentos do Sol. O herói que estiver sob a proteção da Mãe Cósmica nada sofrerá… Essa figura representa o poder benigno e protetor do destino.”
Joseph Campbell, livro O herói de mil faces.