A relação com o simbólico nos tira do que é sórdido, cinzento e feio
“Eu acho que a humanidade tomou dois rumos: uma grande parte foi ignorando esse lado sensível, ao passo que o povo não. O povo o mantém.
Acho que essa relação com o sensível foi preservada e evoluiu nas zonas rurais. O que noto é que aquelas pessoas não têm carro, não têm casa, não têm esgoto, não têm saneamento, têm a saúde física debilitada, mas têm uma alma e vão buscar o acalanto para essa alma.
Eu acho que é aí que acontece a relação com o mítico, com o simbólico, com a transcendência. Porque é isso que é capaz de nos tirar da realidade sórdida, cinzenta e feia.
Então, você vê essas pessoas muito ignorantes, porque não sabem ler, não sabem escrever, são muito pobres, mas que são extremamente lúcidas. Podem não ter uma referência literária, mas têm uma sabedoria na reflexão sobre a vida, sobre vários temas, que sai da boca delas como de qualquer grande escritor.
E essa lucidez que não veio da leitura, que vem do que eu chamo de exercício do sensível, que vem dessa relação com o simbólico, com o mítico.”
Depoimento de Rejane Almeida pg 212