Poema de Borges: “Para uma versão do I Ching”
Maravilhosa poesia de Jorge Luis Borges, que dedico às companheira(o)s consultoras do I Ching e a todos que se perguntam sobre destino, caminho, frestras e fendas.
Para uma versão do I Ching
O porvir é tão irrevogável
como o rígido ontem.
Não há uma coisa
que não seja uma letra silenciosa
da eterna escrita indecifrável
cujo livro é o tempo.
Quem se afasta
de sua casa já retornou.
Nossa vida
é senda futura e percorrida.
Nada nos diz adeus. Nada nos deixa.
Não te rendas. O carcere é escuro,
a firme trama é de incessante ferro…
Mas de algum canto de seu encerro
pode haver um descuido, uma fenda.
O caminho é fatal como flecha
Mas nas gretas está Deus,
que espreita.