Ser bem ajustado é ser saudável?
Quem trabalha como psicoterapeuta – e tem uma visão que a vida das pessoas deve ser tão ampla quanto as suas possibilidades – sabe que muitas vezes o sofrimento do paciente, além das questões pessoais, está entranhado em suas dificuldades de se ajustar as demandas e crenças da cultura.
A pessoa sofre por se sentir diferente do esperado, por não conseguir alcançar o “sucesso” que esperam dela, por não se ajustar aos modelos preconizados como os ideais, por não se sentir feliz e plena com aquilo que dizem que a fará se sentir feliz e plena.
Ela tende então a se sentir um fracasso e sua auto estima vai para o fundo do poço. Pode até chegar a deprimir, fora o stress causado por essa sensação de inadequação.
Ao mesmo tempo em que sofre por se sentir incompetente pode existir uma parte da pessoa que resiste a se ajustar a essas expectativas sociais/culturais. É como se essa parte não quisesse “fazer o jogo” de ser um sucesso aos olhos dos outros a custa de tanto sofrimento interno pessoal. É como se ela ansiasse por algo diferente do que é o oferecido pela cultura dominante.
Muitos chegam à terapia para entender essa recusa ao padrão coletivo. Querem calar essa parte rebelde de si mesmo para melhor se ajustar as demandas do seu meio. Sentem que essa é a sua parte errada. Mas, no maior número de vezes, é essa “parte” que se rebela e que não se ajusta que é a mais saudável, apesar da pessoa não ter consciência disso!
Numa sociedade com uma cultura dominante como a que vivemos, de uma competição desenfreada e sem ética, materialista e consumista, sem mitos e ritos e sem a dimensão do sagrado, infantilizada e unilateralmente extrovertida, onde o se dar bem é a custa dos outros e não com os outros, onde gentileza, delicadeza e ternura são vistos como fraqueza, quem se ajusta bem é que é BEM doente!
Como diz Jiddu Krishnamurt : “Não é demonstração de saúde ser bem ajustado a uma sociedade profundamente doente.”
Algum ajuste é necessário, claro, pois vivemos nessa sociedade, nessa cultura. Mas certa dose de desajuste, apesar de gerar sofrimento e implicar em ter que se estar o tempo todo ampliando a consciência, remar contra a maré e trabalhar consigo mesmo, é um movimento interno a favor da saúde e da expansão da alma!
Texto e ilustração de Cristina Balieiro
Esse artigo foi publicado anteriormente no site http://www2.uol.com.br/vyaestelar – na categoria A MULHER E O MITO, na qual escrevo quinzenalmente.
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