O Feminino e os Livros: A MULHER DE 0 A 90 (E ALÉM)
A Mulher de 0 a 90 (e além): Os ciclos femininos sob o ponto de vista da biologia, da psicologia, e da espiritualidade, de Joan Borysenko, foi lançado em 2002 pela editora Record, no selo Nova Era.
Joan Borysenko é PhD em Ciências Médicas pela Escola de Medicina de Harvard, ex-diretora da Clínica Mente / Corpo da mesma faculdade, especialista em administração do estresse, espiritualidade e na conexão mente/corpo, consultora em saúde feminina e medicina integrada.Escreveu inúmeros livros, muitos deles traduzidos no Brasil.
Nesse livro vai tratar especificamente sobre os ciclos de desenvolvimento das mulheres, como o próprio título diz, dos 0 aos 90 anos. O interessante e rico é que ela vai mesclar aspectos biológicos – e muito focados na neurociência, na pesquisa genética e embrionária e nos estudos mais atuais sobre o funcionamento dos hormônios, com aspectos psicológicos e espirituais e tudo isso visto dentro de um foco de interdependência. É essa visão da conexão bio-psique-alma/espírito que torna o livro instigante. Usa para isso inúmeros estudos de profissionais das mais diferentes áreas, todos com a devida origem especificada, permitindo que quem quiser possa se aprofundar em qualquer deles. A ressalva é que o livro foi lançado originalmente em 1996 e podem existir hoje estudos muito mais avançados mas o que não invalida suas conclusões.
Começa o livro com um capítulo muito interessante: DA COSTELA DE ADÃO AOS CROMOSSOMOS DE EVA, onde mostra que na verdade são os óvulos femininos os maiores responsáveis pela vida (não vou entrar na explicação do porquê – leiam o livro). Depois vai dividir o desenvolvimento feminino em ciclos de 7 anos, cada um, um capítulo:
Idades de 0-7: Primeira infância: da empatia à interdependência
Idades de 7-14: Meia-infância: a lógica do coração
Idades de 14-21: Adolescência: Branca de Neve cai no sono, mas desperta para si mesma
Idades de 21-28: Um lar próprio: a psicobiologia do casamento e da maternidade
Idades de 28-35: A transição dos 30 anos: novas realidades, novos planos
Idades de 35-42: Cura e equilíbrio: fiando palha e transformando-a em ouro
Idades de 42-49: A metamorfose de meados da vida: autenticidade, poder e aparecimento da guardiã
Idades de 49-56: De ervas à terapia de reposição de hormônios: uma ponderada introdução à menopausa
Idades de 56-63: O coração de uma mulher: o poder feminino e a ação social
Idades de 63-70: As filhas da sabedoria: a criação de uma nova cultura integral
Idades de 70-77: Os dons da mudança: resiliência, perda e crescimento
Idades de 77-84 e além: Recapitulando nossa vida: geratividade, retrospecção e transcendência.
Ela, além de citar como já disse, inúmeros estudos e autores e usar exemplos de seus pacientes, cria um personagem fictício, Júlia, que passa por todas as etapas descritas por ela. Começa no nascimento de Júlia e termina com ela aos 80 anos. Acompanhar essa “história de vida” dá um sabor gostoso ao livro.
Nos primeiros capítulos, a ênfase é na importância da integração entre a biologia e a criação/educação das meninas, o que as torna tão diferentes dos meninos: como a psiquê das mulheres é fruto dessa interação. A medida em que a vida passa, especialmente na sua segunda metade, cada vez mais prevalesse a importância das escolhas conscientes e do auto conhecimento, mostrando a importância para a saúde física e mental do significado que cada uma dá à sua vida e da espiritualidade.
Vejam por exemplo alguns trechos do capítulo sobre a adolescência:
Na puberdade, o corpo da mulher adolescente torna-se, de fato, finalmente sintonizado com os ciclos da energia lunar (…) Quando a pineal sinaliza à pituitária que chegou a ocasião, esta última começa a produzir FSH e LH e todo o corpo da mocinha passa a reagir aso ciclos de luz lunar (…) A analista junguiana Ann Ulanov descreve a consciência feminina como periódica e ritma. Nós crescemos e minguamos.
E no capítulo sobre os anos 70 aos 77:
O tempo que cerca a morte é emocionalmente supercarregado e abundam as oportunidades de pôr um ponto final em velhas situações e chegar a novos níveis de compreensão. Essa é a dádiva da morte consciente, a possibilidade de converter tempo difícil em tempo sagrado.
O livro tem uma certa pegada “nova era” e uma forte ligação com a cultura americana, o que às vezes, a meu ver, faz com que algumas afirmações e conclusões sejam questionáveis, mas isso não impede que seja uma leitura bem rica e cheia de pontos instigantes de reflexão para quem quer pensar o feminino e as mulheres.