Texto de PEDRO DEL PICCHIA
Hoje coloco aqui um texto do Pedro, psicólogo que fala sobre aquelas pessoas mega racionais, que acham que TUDO tem uma causa simples, portanto uma solução “resolvível” racionalmente.
Pais “resolvem” assim problemas dos filhos, pessoas “resolvem” relações com amigos, e por aí afora. No exagero, é tipo aquele nerd do Big Bang Theory.
Achamos mesmo que vivemos numa espécie de equação matemática? O que fica de fora nisso é na verdade o mais importante…
Para saber mais pedropsicologo.com.br
“Quando trabalhava em escola tive oportunidade de conhecer muitos pais. Uma das minhas responsabilidades era tentar criar um elo entre a escola, pais e alunos. E também lidar com os ‘alunos-problema’.
O grande ‘problema’ dos alunos acabava sendo as notas e ser retido no final do ano. Nessa hora, os pais com os ânimos aflorados, é que algumas coisas apareciam. Sendo uma delas o ‘pensamento de engenheiro’, termo que meus colegas me passaram.
O pensamento é algo assim: se ele não passou, temos um problema, se há um problema há uma causa, se corrigirmos a causa não temos mais problema. Simples lógico e rápido. Pneu furou? Trocamos e pronto.
Ah, se apenas fosse fácil assim! Causalidade é uma coisa perfeita para situações perfeitas. Nós não somos perfeitos.
Essa situação não é exclusiva de pais, mas também para muita gente. Recentemente encontrei uma pessoa que diz ter dificuldades para se relacionar. Ele ‘não sabe ter amigos’. Conversando percebi que ele só sabia conversar ou falar algo quando tinha ‘algo a complementar’. Isto é, se ele sentisse que era objetivamente útil a conversa, caso contrário ficava quieto.
É o ‘pensamento de engenheiro’ de novo. Isso é um traço característico de pessoas extremamente racionais, muitas vezes confundidas com pessoas inteligentes. Mas também mostra a dificuldade que eles têm de se perceber fazendo parte de um grupo.
O problema do aluno, muitas vezes, era a falta de contato e carinho com o pai, o que quer dizer: – ‘Você é o problema, dê mais atenção ao seu filho’. Daí fica o questionamento: o que significa para ele passar mais tempo com o filho? Economia da mensalidade (assim ele passará de ano?), ou a razão de precisar de outra pessoa dizer que ele é importante para o filho – o que parece lógico, mas não é.
Tal qual essa pessoa que encontrei. A existência dele é percebida, por ele, o quanto ele pode ser útil, objetivamente. Porém não consegue ver a força simbólica que ele tem só por dar uma opinião, ou estar lá.
P.S. Antes que me chamem de engenheiro-fóbico, esse tipo de pensamento não é exclusivo, todos podemos cair na insegurança de ter que medir nossa importância por critérios objetivos, daí sentimo-nos inúteis, ou, sem significado.”
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