O Feminino e os Livros: BREVE HISTÓRIA DO MITO
Durante o final de fevereiro e quase todo o mês de março não publiquei no blog nenhum post sobre O Feminino e os Livros, conforme havia me comprometido no final do ano passado, mas tenho uma boa justificativa, a meu ver.
Estava terminando de escrever meu terceiro livro e o primeiro “solo”que vai ser lançado agora dia 23 de abril, O LEGADO DAS DEUSAS –detalhes conto em outro post. Depois dessa propaganda antecipada, voltemos ao Feminino e os Livros.
Para recomeçar escolhi um livro que se encaixa e não se encaixa nessa categoria: BREVE HISTÓRIA DO MITO. Ele foi escrito por Karen Armstrong, de quem já indiquei aqui o livro de memórias. Foi lançado pela Companhia das Letras, em 2005. Nesse pequeno livrinho – são só 133 páginas – Karen, numa linguagem simples, mas precisa e primorosa, traça um amplo panorama histórico da visão humana sobre a vida e seus mistérios, indo do período paleolítico aos tempos modernos.
São sete capítulos:
1. O que é mito?
2. O período paleolítico: a mitologia dos caçadores (20000 a 8000 a.c.)
3. O período neolítico: a mitologia dos agricultores ( 8000 a 4000 a.c.)
4. As primeiras civilizações (4000 a 800 a.c.)
5. A Era Axial (800 a 200 a.c.)
6. O período pós-Axial (200 a.c. a 1500 d.c.)
7. A grande transformação ocidental (1500 a 2000 )
Ela vai nos levando pela história da construção do saber humano, desde seus primórdios até os dias de hoje. Nos leva a entender e refletir como formamos nossa visão de mundo e o sentido que damos à vida. Faz um paralelo entre a visão mítica e a visão científica, mostrando que cada uma tem seu papel e não que a visão mítica é primitiva e a científica uma evolução. Não, mostra que a visão científica é para dar contas das demandas práticas e objetivas da vida e a mítica ou simbólica para as demandas da alma e da busca de Sentido. E que o relegar o mundo mítico, simbólico ao um plano inferior, nos tempos modernos, nos deixou “orfãos” e perdidos numa vida sem significado e que não nos prepara para enfrentar os Grandes Mistérios, como a morte, por exemplo.
Mostra também que não existimos sem estarmos imersos em uma mitologia, mesmo que inconscientes dela e essa mitologia pode ser inclusive a própria visão materialista da vida. E por isso vivemos tempos culturais de “terra devastada” e de angustias existenciais profundas por não termos uma mitologia a altura das demandas humanas atuais.
Ela escreve:
Talvez estejamos mais sofisticados em termos materiais, mas não progredimos espiritualmente para além da Era Axial: talvez, devido à supressão do mito, tenhamos até regredido.
( A Era Axial foi quando surgiram Buda, Confúcio, Lao Tsé, Anaximandro, Heráclito e as grande religiões)
Diz também, aliás como Campbell no seu último livro das Máscara de Deus – A MITOLOGIA CRIATIVA, que hoje são os artistas que tem nas mãos a criação do “mythos”, ou da linguagem simbólica que alimenta a alma humana e dá Sentido e Significado à vida. Termina seu livro assim:
Se os líderes religiosos profissionais não podem nos instruir no conhecimento mítico, nossos artistas e romancistas talvez possam cumprir esse papel sacerdotal e apresentar uma visão nova a nosso mundo perdido e avariado.
A essa altura você pode estar se perguntando: mas o que tem isso a ver com o Feminino? Talvez diretamente nada, mas indiretamente muito. Nossa visão sobre nós, mulheres e os homens, sobre os dois princípios complementares, feminino e masculino, sobre as questões políticas, sociais e simbólicas de gênero estão totalmente entranhadas nas crenças culturais em que estamos imersos.
Ler esse livro é ganhar perspectiva! Perspectiva absolutamente necessária para buscarmos pensar o Feminino a partir de uma visão para além da patriarcal. Por isso recomendo a qualquer pessoa que queira pensar sobre o que é ser mulher hoje e no futuro que leia esse livro.
E recomendo também que o leia quem quiser refletir sobre qualquer tema que tenha a ver com o humano. É um dos melhores livros de não-ficção que já li na vida!